Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Claudia Costin

A Covid e suas histórias

Minha perda foi enorme, mas outras famílias viveram tragédias ainda maiores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Retomo a coluna depois de uma semana ausente, dada a triste perda de meu marido, Nabuco Barcelos, a quem homenageio no artigo que hoje escrevo (assim como o faço para os que também perderam suas vidas para a Covid). Tento fazer aqui, portanto, já me desculpando pelo tom pessoal, um breve balanço não do período histórico, mas destes dois anos e meio de vida em suspenso.

O ano de 2020 começou, para nós, com a informação ainda incerta de que uma epidemia de proporções planetárias poderia chegar ao Brasil, o que levou alguns a sarcasticamente tentar ridicularizar a imprensa, atacada como sensacionalista e irresponsável. Já desconfiávamos, Nabuco e eu, que o problema seria sério, pois o mundo estava muito mais conectado que em episódios similares anteriores.

Mas pouco sabíamos de tudo o que iria ocorrer. Optamos por voltar por um tempo para São Paulo, onde teríamos uma estrutura melhor para nos isolar caso fosse necessário. E foi. Não só por uns dois meses como imagináramos inicialmente, mas por dois anos e um pouco mais. Como brincávamos, um casal que sobrevive a um isolamento longo tem um relacionamento sólido e amoroso. Passamos no teste...

Nabuco Barcelos, marido da colunista da Folha Claudia Costin - Claudia Costin

O primeiro esforço foi como entender o contexto. Já era ávida leitora de livros literários e vi-me lendo obras como "A Peste", de Camus, e o "Diário do Ano da Peste", de Daniel Defoe, além de outras de não ficção, como "A Grande Gripe", de John Barry, sobre a gripe de 1918, erroneamente chamada de espanhola.

Passei a trabalhar de casa, o que não me foi muito difícil nas minhas atividades de palestras, pesquisas, mentoria de secretários municipais e estaduais de Educação e nas aulas da Fundação Getúlio Vargas e da Faculdade de Educação de Harvard. Aprendemos, como muitos casais, a nos adaptar juntos, Nabuco e eu, a uma rotina bem distinta da que tínhamos anteriormente.

Tivemos que lidar com dores. A triste descoberta do câncer, o isolamento mais intenso, inclusive dos netos, e, apesar de todas as doses da vacina, na desaceleração final da pandemia, uma Covid que parecia leve, tornou-se longa no caso dele. Assim, ele se foi, depois de 87 dias de hospitalização.

Não foi fácil, mas outras famílias viveram tragédias ainda maiores, em número de pessoas afetadas, fome, perda de fonte de renda e emprego. Crianças e jovens tiveram fortes perdas de aprendizado ou abandonaram as escolas.

Que este sofrimento nos traga lições não só pessoais mas como país, no sentido de levar a sério as políticas públicas, as medidas de prevenção necessárias e a importância de olhar para os mais vulneráveis. Temos um futuro a construir!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.