Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Descrição de chapéu mercado de trabalho

Os jovens e o futuro

Há uma visão talvez ingênua de que em outros países teriam uma vida bem melhor

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Duas pesquisas recentes realizadas pelo Datafolha ouviram jovens de diferentes faixas etárias, revelando suas expectativas em relação ao futuro e suas preferências em relação à educação. A primeira ouviu, de fevereiro a abril de 2022, estudantes do ensino médio de escolas públicas, etapa em que predominam jovens de 15 a 17 anos, enquanto a segunda, realizada em julho, focou nos de 15 a 29.

Na primeira, apareceu com destaque a conexão com a escola, bem avaliada pela maioria, em particular os que estudam em tempo integral. Mesmo assim, dados do Inep de 2021 mostram que o abandono escolar mais do que dobrou, indo de 2,6% para 5,6%.

92% dos jovens apoiam a ideia de se ter, nesta etapa, áreas alternativas de aprofundamento a serem selecionadas por eles, como ocorre em países com bons sistemas educacionais. De fato, imaginar que todos tenham que cursar 13 disciplinas, espremidas em quatro horas e meia de aulas, oferecendo apenas um verniz de cada uma, faz pouquíssimo sentido.

Também neste sentido, mais de 80% aprovaram características típicas de escolas integrais, como aulas práticas, eletivas ou clubes com atividades culturais e esportivas.

Na segunda pesquisa, apesar da constatação da maioria de que houve perdas irreparáveis com a pandemia, o desejo de estabilidade financeira e moradia própria aparece como uma preocupação maior do que a de prosseguir com os estudos, decisão, esta última, fundamental, inclusive para se poder ter condições de alcançar as duas primeiras. Sabe-se que cada ano adicional de estudo, de acordo com o Banco Mundial, aumenta em até 15% a renda futura do trabalho.

Mas o que me chamou mais atenção nesta pesquisa mais recente foi certa desesperança dos jovens quanto ao futuro. O altíssimo percentual deles que afirmam desejar deixar o Brasil evidencia sim uma crise que afetou emprego e renda de jovens, mas há algo mais no ar. Há uma percepção correta de que algo não caminha bem por aqui e uma visão talvez ingênua de que em outros países teriam uma vida bem melhor, mesmo sem se dispor das qualificações necessárias para navegar no que se convencionou chamar de "o futuro do trabalho". Afinal, a automação acelerada de postos de trabalho que demandam apenas competências básicas vem trazendo, por um lado, certa sofisticação nas demandas de talentos pelo setor produtivo e, por outro, oferta de trabalhos precarizados e extremamente instáveis para os demais.

É urgente se construírem boas políticas públicas voltadas aos jovens, incentivando-os a se manter estudando e criando oportunidades para que possam realizar seus sonhos de futuro.

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