Todo mundo já comentou, recomendou e compartilhou. Já viu a entrevista do Roger? Aonde a gente fosse no sábado passado, a pergunta era essa. A entrevista do Roger ficou maior que o feriado de Nossa Senhora Aparecida e que o Dia das Crianças.
Uma entrevista dada de cabeça quente, depois que o Bahia perdeu para o Fluminense. Ah, se todos tivessem a cabeça quente igual ao Roger.
Já vi e revi a entrevista muitas vezes, parando a imagem para aproveitar melhor as palavras. Os repórteres se impressionaram com o fato de os dois times terem técnicos negros.
Essa é a prova de que existe preconceito porque é algo que chama a atenção, Roger começou. Dois pretos, os únicos, ambos reconhecidos em seus tempos de jogadores, comandando times da Série A em um país com 50% da população negra. (Como nós, os brancos, chamaríamos isso? Meritocracia?)
E Roger continuou. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor? Por que 70% da população carcerária é negra? Por que quem morre no Brasil são os jovens negros? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são os dos negros? E entre as mulheres negras e brancas, são os das negras? Por que, entre as mulheres, quem mais morre são as negras? Quantas mulheres negras comentam esporte?
Dava para ouvir o silêncio dos repórteres. O próprio Roger respondeu às perguntas feitas por ele: a razão o preconceito estrutural, institucionalizado.
E a quem repete que não existe racismo no Brasil porque, no fim das contas, Roger está no topo? Bem pelo contrário. Ele ser o único negro em todos os lugares que frequenta é a maior prova de que há racismo. A entrevista do Roger ficou maior que a vitória do Flu.
No meio da semana, Roger foi a Porto Alegre para enfrentar o Grêmio. É o meu time. Foi Roger quem entregou a ideia que Renato Portaluppi transformou na série de vitórias que tivemos nos últimos anos.
A torcida do Grêmio adora o Roger, que não fez caso disso. Ganhou da gente em plena Arena.
Mas o que mais doeu foi ver os dois técnicos lado a lado e pensar na entrevista de um e de outro. A que Renato deu há alguns meses, aqui para a Folha, lembrou a máxima do “calado, fulano é um poeta”. Só que o campeonato segue e, o que vale, é levantar a taça lá no fim. O jeito é se abraçar no Renato. No tal país do futebol, a bola acaba falando mais alto que a consciência.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.