Acharam que ela não merecia um ministério próprio. “Secretaria Especial” estava de bom tamanho. Que importância tinha a cultura, esse conjunto de coisas que não se pode tocar, para ocupar uma pasta própria com orçamento, iniciativas, investimentos e ideias que até vinham dando certo?
Pegaram tudo, teatro, cinema, música, literatura, arte, dança, programas dirigidos aos jovens e aos velhos, leis de incentivo, tudo o que deu para juntar, puseram no mesmo saco e trataram da mudança. A Cultura foi parar no Ministério da Cidadania. Longe de o ministro ser um Gustavo Capanema, que um dia imaginou o país construído pela educação e pela cultura, ainda assim não parecia um desmonte completo.
Eles não são loucos, a gente pensava, a cultura é um setor economicamente importante —isso se o fato de ser fundamental para um país, um povo, não servisse como argumento. Eles não são loucos.
Começaram os cortes. Os programas de financiamento que desenvolveram a indústria do audiovisual, que geravam empregos e receita do mesmo jeito que qualquer outra indústria, foram exterminados com uma canetada.
O que os histéricos de bandeira verde e amarela na mão que odeiam artistas não percebem é que eles, os artistas, são a minoria prejudicada. O pano caiu também para técnicos, para quem fornece a alimentação, transporta, cuida da roupa, limpa, vende ingresso, trabalha nos escritórios, para o vigilante, para o porteiro. A tragédia do palco é uma catástrofe para os bastidores.
Quando o caidaço ministro da Cidadania perdeu a Cultura, o nome da bactéria cujo feito memorável foi atacar uma grande atriz brilhou. Agora era só arrumar um puxado, de fundos, sem vista, para acomodar as sobras. Na Educação, a Cultura deve ter sido corrida a guarda-chuvadas pelo titular. Poderia ir para o Meio Ambiente, que diferença faria um desastre a mais naquela pasta? Ou quem sabe pudesse ser absorvida pela Pesca, os peixes inteligentes dando a ela o valor que os homens negam. Foi parar no Turismo, “Visit and Love Us”, no que deve ser apenas uma escala. O destino provável é a pasta da Damares, aquela que considera a cultura uma inimiga da família.
Eles não são loucos. Os loucos não merecem a comparação. Eles são é muito, mas muito mal-intencionados.
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