Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Se faltar resposta, basta xingar a mãe dos outros

Será que, quando criança, ele ofendia a mãe de qualquer desafetinho que cruzasse pelo seu caminho?

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Será que, quando criança, ele ofendia a mãe dos coleguinhas, dos vizinhos, de todo e qualquer desafetinho que cruzasse pelo seu caminho?

Se a idade não lhe acrescentou educação, nem sequer modos, imagine o tosco que devia ser em seus tenros e selvagens anos. Apanhou demais, talvez? Ou —pergunta que, mesmo envolvendo alguém tão bruto, custa fazer— faltou laço?

Que nada. Disse a mãe dele em uma entrevista que o filho era meigo, doce, delicado. Não falava besteira, garantiu. Jamais sofreu violência. Criança precisa de amor. Parece que a metamorfose se deu na saída do anonimato para uma vida pública folclórica. A mediocridade subiu à cabeça.

De qualquer jeito, a mãe, como figura, sempre foi coadjuvante nas famílias que ele constituiu. Uma perdeu o cargo nas urnas para o filho menor de idade quando se atreveu a um pensamento diferente. “Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria falar comigo para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias.” 

Outra teve alguns enfrentamentos e logo se recolheu. Ambas têm pretensões políticas, sempre na órbita do ex. À mãe do momento, bela, recatada e da igreja, coube interromper a live de alguma quinta com flores pelo aniversário de casamento. Recebeu aquele sorriso mezzo Muttley, mezzo Roberto Carlos: hoje tem festa? Quer dizer que hoje tem festa?

Se na organização familiar a mãe tem um papel secundário, a mãe dos outros está sempre nas manchetes. O Queiroz? Tá com a sua mãe. Pergunta para sua mãe o comprovante que ela deu para seu pai, tá certo? Está falando da tua mãe? Você está falando da tua mãe?

Tal uma criança que, sem ter o que responder, responde qualquer bobagem apenas para ficar com a última palavra, ele vê na mãe de repórteres e opositores, de preferência mulheres, o escape para as suas saias justas. Engraçado saber pela própria mãe dele que, menino, o sujeito não era assim.

Mas ainda faltam três anos e há que se ter repertório. Não dá para passar esse tempo todo perguntando “e a sua mãe, vai bem?”. A equipe do homem é qualificada, xinga e ofende com estrelinha. De repente vale pedir uma força, promover um workshop, um TEDx, chamar um coach, enfim. Vamos variar esse discurso.

Mães, tapem os ouvidos.

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