Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Para baixo e avante

A cada dia um novo esforço para não brochar

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É de se perguntar o que levou o governo de Rondônia a recolher clássicos da literatura sob o argumento de “conteúdo inadequado”. Ignorância, com certeza. Burrice, por óbvio. Obscurantismo, claro. Mas tudo isso ainda parece pouco quando olhamos os títulos. Que critérios, que razões, o que determinou a montagem da lista?

Bem que o secretário de Educação tentou engambelar, “é fake”, mas acabou mudando a versão para “não acompanhei o trabalho durante a semana”. Com a grita, o memorando medieval ficou sem efeito. É o velho jogo do bota e tira, tão comum hoje em dia: faz-se uma patacoada, depois volta-se atrás —como se isso apagasse o vexame. Fica vermelha, cara sem vergonha.

Ilustração mostra homem de terno queimando livro em fogueira
Cynthia Bonacossa/Folhapress

Tento imaginar alguns critérios para a lista. “Mar de Histórias”, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira: esse aí deve ser parente daquele cantor comunista, recolhe. “Diário de um Fescenino”: fescenino? Boa coisa não é, já basta a juventude ser maconheira, só  falta ficar fescenina também. 

“Secreções, Excreções e Desatinos”: é tipo “golden shower”? Aos costumes. “O Melhor de Nelson Rodrigues”. E desde quando Nelson Rodrigues tem melhor, aquele degenerado? 

“O Castelo”, de Kafka. Que Kafka, o quê? É Kafta. Imagina o que deve ter de erro lá dentro se nem o nome do autor vem certo. “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Mas pra quê dar ideia de revolta pra esse bando de miolo mole? Só se for pra tropa cagar todo mundo a pau, igual nessa porcaria aí. 

“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis: quem é esse tal de Machado de Assis? Bota autor conhecido nessa lista, cacete. “13 dos Melhores Contos de Amor”, de Rosa Amanda Strausz: pra começar, literatura boa é escrita por homem. Um livro com um monte de desocupado se esfregando, uns até do mesmo sexo, e vem dizer que é amor? Raspa daqui.

Ao pé da lista, uma breve observação: todos os livros de Rubem Alves devem ser recolhidos. Rubem Alves, autor de uma obra singela, entrou de gaiato na história, confundido com Rubem Fonseca, esse sim campeão de indicações no ataque medieval de Rondônia. Mais um prêmio para ele, junto com o Camões e os tantos Jabutis que já ganhou.

Em meio a tudo, ao menos um motivo para admirar o presidente: ele é imbrochável. Que sorte. Porque, se a pessoa tiver um mínimo de sensibilidade nesse hospício geral, nunca, nunca mais levanta.

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