Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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A morte foi menosprezada na entrevista da Namoradinha da Cultura

Pessoas tendem a ser indiferentes quando a morte está longe delas, de seus interesses, de seus amores

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Não tem nada mais inconveniente, mais inoportuno, mais indelicado, mais desagradável, mais doloroso, mais sinistro, mais sombrio que a morte. Bem, tem o Bolsonaro, mas esta coluna, excepcionalmente, não é sobre ele.

Ilustração de Cynthia Bonacossa para coluna de Claudia Tajes de 10.mai.2020.
Cynthia Bonacossa/Folhapress

Pessoas tendem a ser indiferentes quando a morte está longe delas, de seus interesses, de seus amores. Não é por mal, é a vida. A exceção é a morte de uma celebridade, de uma personalidade, de uma sumidade —ainda que nem sempre.

Sem desmerecer o passamento de MC Reaça, é sintomático que alguns o lamentem e ignorem o desaparecimento de grandes artistas e de milhares de brasileiros. Sérgio Sant’Anna, Rubem Fonseca, Moraes, Flávio, Aldir. Marias, Clarices, Josés, Antonios. Em tempos de grosseria, morte virou commodity.

A morte também deu para ser menosprezada, como se viu na entrevista da Namoradinha da Cultura, a atriz Regina Duarte. Pra frente, Brasil, mas sem levar nas costas cordéis de caixões de vítimas da ditadura e do coronavírus.

Cordel de caixão também deve ser mais ou menos assim: ele pode ser de pínus/ de carvalho ou cerejeira/ depende se o cabra é rico/ ou se não tem eira, nem beira/ seja lá que bicho seja/ tire logo da cabeça/ que caixão é como história/ enterre fundo e esqueça.

Ainda sobre Regina, incrível a solução que ela propõe para a secretaria não ficar assoberbada, prestando homenagem a quem morre nesses dias tristes: abrir (sic) um obituário no site. Os notáveis que integram esse governo foram convidados segundo critérios técnicos (arrã) ou políticos. Não estará faltando um psicotécnico antes da nomeação no Diário Oficial?

A morte é desconsolada, é fria, é dura, é solitária, é malvada. Com tudo isso, é justamente nos textos sobre a morte, aqui no obituário do jornal, que é possível encontrar mais poesia. Muitos são assinados por Patrícia Pasquini, que olha com uma sensibilidade bem rara para todos os que se vão.

A primeira palavra que Bruno falou foi borboleta.

Em meio ao forró, ensinou aos filhos a felicidade.

Uniu a alegria à determinação de olhar para a humanidade.

Aventurou-se na vida com humor, amor e gentileza.

A generosidade dos textos de Patrícia deveria ser uma inspiração para Regina Duarte, para o presidente, para quem insiste que o distanciamento social é exagero e quer todo mundo na rua para fazer a economia andar. Se com saúde, isso fica para depois. Quem se importa?

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