Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes

O Brasil estaria muito melhor com um gafanhoto na Presidência

Um candidato de consenso no horizonte do país

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Há uma nuvem gigantesca de gafanhotos se deslocando da Argentina na direção do Sul do Brasil. Talvez ela mude de rumo e, em vez de aterrissar pelas bandas de municípios gaúchos e catarinenses, vá passear no Uruguai. Depende dos ventos, da temperatura e, um bocadinho também, da sorte de se ter ventos e temperaturas favoráveis. Uma nuvem de gafanhotos como aquela das sete pragas do Egito antigo —embora sete pragas a gente já tenha por aqui, muito mais de sete, até. Só na família Bolsonaro são várias.

A nuvem, que tem sua provável origem no Paraguai, assusta os agricultores e provoca reflexões. Uma delas, que circula pelo Facebook de amigos: podia ser pior, poderia haver um gafanhoto como presidente e estar vindo uma nuvem de Bolsonaros. Discordo veementemente. O Brasil estaria muito melhor com um gafanhoto na Presidência.

Ilustração para a coluna de Cláudia Tajes da edição de 29.jun.20
Cynthia Bonacossa

Começa que o gafanhoto tem muitos filhos, já que a fêmea põe de 50 a 120 ovos por acasalamento. Com tantos gafanhotinhos assim, papai não poderia proporcionar os agrados todos que farão deles uns imprestáveis no futuro. Uns mimados que não respeitam nada. Uns escrotos, por assim dizer, como qualquer playboy que sabe contar com a proteção do papi para se livrar das encrencas que arruma. Precisando cuidar do 01 ao 120, papai gafanhoto não teria nem tempo para criar filhotes assim.

Depois, o gafanhoto pode não ser muito inteligente, mas o pouco cérebro que possui deve ser suficiente para não negar a gravidade de uma pandemia, para não defender a tortura, para não querer fechar as instituições, para não se aliar aos mais reacionários e ignorantes, para não seguir Olavo de Carvalho e para não fazer lives constrangedoras às quintas-feiras. O gafanhoto não destruiria a Amazônia, já que prefere dizimar plantações a florestas. Talvez os fundos internacionais não cortassem os investimentos no Brasil se um gafanhoto estivesse na presidência.

O gafanhoto e seus pares são vorazes, o que ficaria elas por elas. E o mandato dele seria bem menor, já que a vida de um exemplar da espécie dificilmente chega a um ano. No caso da administração ser um completo fracasso, não haveria o desgaste do impeachment nem a frustrada torcida pela renúncia.

Gafanhoto para presidente. Passe adiante.

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