Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes

Quando tudo estiver perdido, não chame o Capitão Cloroquina

Capitão é o defensor dos frascos e comprimidos, principalmente dos comprimidos

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Primeiro a Secretaria de Comunicação cogitou chamar o personagem de Capitão Cloroquina, mas uma pesquisa informal entre filhos e crentes do primeiro escalão revelou que não ficava bem.

Cloroquina, palavra feminina. Seria como batizar alguém de, por exemplo, Jair Adelaide. Não senta —desculpe, não combina. Ia virar chacota. Capitão Cloroquina, esse aí nunca me enganou! Capitão Cloroquina, em vez de cueca em cima da calça, deve usar uma calcinha.

Foi quando a solução, óbvia, surgiu: fazer a versão masculina da palavra. Capitão Cloroquino. De quebra, esse governo, sempre acusado de não ter cultura, legaria um neologismo para a posteridade.

Capitão Cloroquino, o defensor dos fracos e oprimidos. Não é por aí, opinou o pessoal do marketing. A pandemia ainda era uma ameaça, mas já estava na cara que os fracos e oprimidos não seriam protegidos.

Ilustração para a coluna de Claudia Tajes da edição de  27.jul.2020
Cynthia Bonacossa

Foi quando um trocadilho, que alguns leitores chamarão de raso, salvou a pátria. Capitão Cloroquino, o defensor dos frascos e comprimidos. Principalmente, dos comprimidos.

Capitão Cloroquino, então, começou sua cruzada contra o isolamento social. Contra a máscara. Contra os médicos. Contra os cientistas. Contra os profissionais da saúde. Contra os ministros sem farda. Contra a OMS. Contra os governadores. Contra os prefeitos. Contra os chineses, que criaram o vírus para dominar o mundo.

E contra os de sempre: a gramática, as artes, a educação, o bom senso, todas manifestações comunistas.

Recentemente, Capitão Cloroquino deu para enfrentar também as emas do Alvorada. Viver é fazer inimigos, alguns dirão.

Ao contrário de objetos míticos como o sabre de luz, o machado de Thor ou o tridente do Aquaman, a arma do Capitão Cloroquino é banal, quase ordinária. Não faz muito, antes de popularizada por ele, era encontrada em qualquer farmácia.

A arma do nosso intrépido personagem é uma nada inofensiva caixa de cloroquina, ou de hidroxicloroquina —que, mal usadas, sem prescrição médica, podem mesmo matar. O curioso é que o capitão volta sua arma contra seus próprios aliados, hoje estimados em 15% da população. Número que, a essa altura, a julgar pela falta de cuidados e pelo tratamento proposto, já deve ser menor.

Quando tudo parecer perdido, e sempre que você puder, fique dentro de casa. E nunca, em hipótese alguma, chame o Capitão Cloroquino.

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