Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes

Eis que surge um paladino com ânimo para defender os brancos oprimidos

Magalu feriu os brios do defensor público ao lançar um programa de trainees exclusivo para pessoas pretas

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Estava na hora de surgir um defensor dos brancos oprimidos. Infelizmente, não veio com a inteligência elegante de um professor Sílvio Almeida nem com o brilho de uma Djamila. E daí? Ele está na área, o nosso Messias. Opa, já existe o Messias. Não aquele de barba, o que andava com os pobres e desfavorecidos, mas esse de agora, o acima de tudo e de todos.

Melhor deixar o Messias fora disso.

Pode parecer que o nosso valente está ocioso, mas não. Menos de 600 defensores públicos da União atendem hoje, na esfera federal, a toda população sem condições de recorrer a advogados. Trabalho é o que não falta. Ainda assim, assoberbadão, o paladino encontrou ânimo para brigar pelos brancos indefesos.

Homens brancos com causa, é disso que esse país precisa.

Ilustração abstrata em preto e branco
Cynthia Bonacossa

O defensor não esperou que um homem branco fosse assassinado com 80 tiros nem que uma criança branca fosse morta a caminho da escola para tomar a dianteira da luta.

Seu alvo foi o Magazine Luíza, que lhe feriu os brios ao lançar um programa de trainees exclusivamente para pessoas pretas. As mesmas a quem, em geral, são negadas oportunidades de ascensão nas empresas, como justificou o próprio Magalu ao lançar a iniciativa.

Em sua cadeira, diante de pilhas de ações previdenciárias, trabalhistas, de habitação, de alimentação, de saúde e outras tão urgentes quanto, nosso justiceiro bateu a franja. Se alguém vai lacrar aqui, soy yo.

De posse da opinião de luminares como o presidente da Fundação Palmares e de um artigo escrito por alunos do filósofo do nada, Olavo de Carvalho, o audaz servidor foi a campo. "O que pode parecer uma preocupação com igualdade social, portanto, pode ser uma ameaça à democracia a médio prazo." Valor da multa para o Magazine Luíza: R$ 10 milhões por danos morais.

Toma.

A Defensoria Pública da União logo emitiu uma nota dizendo que seus membros gozam de liberdade para agir, mas que a posição do sujeito de franja não representava o pensamento da instituição. Entretido com entrevistas a sites de extrema direita, ele fez que nem viu.

Sugestão leiga: despejar mais algumas pilhas de processos na mesa do arrojado protetor dos brancos.

Assim ele fica sem agenda para procurar pelo em ovo. E, quem sabe, evita passar mais uma vergonha federal.

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