Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes
Descrição de chapéu

Sérgio Camargo oferece tristeza contra humor involuntário do governo

Sumir com a história é o recurso clássico para eliminar quem o fez sofrer, mas não muda o passado

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Lembra as namoradas e namorados que, findo o romance, rasgavam a cara do ex-amor de suas fotografias. Ou a velha técnica de apagar opositores das imagens oficiais.

Sumir com a história, a pessoal ou a de um país, é o recurso clássico para eliminar, em um plim!, quem o fez sofrer, quem o incomodou, quem incomoda ainda. Como se isso mudasse o passado.

Usar a caneta para desaparecer com a história é o que faz hoje o autodefinido “negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto e livre” Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares.

Pincel espalha tinta branca sobre personagem preto de costas
Cynthia Bonacossa

Do exército de Brancaleone que veio do nada para ocupar cargos públicos, ele talvez seja o de figura mais triste. Tudo o que Camargo faz e diz é triste. Contra o humor involuntário de outros membros do governo, ele oferece tristeza.

Depois de xingar Zumbi e chamar o movimento negro de “escória maldita”, o senhor Camargo levou sua caneta branqueadora para passear no site da Fundação Palmares.

Biografias de personalidades negras que não caíram em seu gosto foram excluídas em um zupt! Já a princesa Isabel ganhou artigo elogioso —apesar de a escravidão ter sido benéfica para os descendentes. Sim, ele disse isso. E a sério. Camargo lá é homem de brincadeiras?

O jornalista Sérgio Camargo
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares - Reprodução/Twitter

Na semana passada, as vítimas da caneta branqueadora foram 27 artistas, políticos e esportistas pretos homenageados no site da fundação.

Nomes como Elza Soares, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Conceição Evaristo, Zezé Motta, a deputada Benedita: zap! Milton Nascimento, Marina Silva, Leci Brandão, o senador Paim, Vanderlei Cordeiro, Vovô do Ilê: pluft! Todos sumariamente retirados do ar. A lista completa é de chorar.

É que agora a fundação só homenageia os falecidos, disse o presidente. Mas não todos, que a Palmares não é o céu para receber qualquer alma preta que suba.

Embora a caneta branqueadora cause espanto, admira mesmo é o poder do senhor Camargo de resistir no cargo. Não há o que o tire de lá, por mais absurdos que cometa. A estátua de Zumbi dos Palmares já foi removida da fundação, mas ele continua na cadeira. Parece até que passou Super Bonder.

Pedindo perdão a Paulinho da Viola por tocar em uma de suas obras-primas, encerro com uma esperança. É um rio que está passando em nossa vida. Mas nosso coração não vai se deixar levar.

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