Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci
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Mesmo com inflação baixa, reajuste de plano deve doer no bolso

TCU  diz que ANS não tem mecanismo eficiente para evitar aumentos abusivos

Não sei se vocês compartilham da mesma percepção, mas no meu círculo de amigos e conhecidos tem aumentado muito a queixa sobre reajustes abusivos nas mensalidades de planos de saúde. Alguns não tiveram outra alternativa senão migrar para produtos inferiores ou abrir mão dos convênios e redescobrir o nosso bom e velho SUS.

Meus amigos não estão sozinhos. No ano passado, o reajuste abusivo nas mensalidades liderou o ranking de reclamações no Idec (Instituto Nacional de Defesa do Consumidor). Nos últimos quatros anos, o setor suplementar perdeu mais de 3 milhões de usuários de planos por conta, principalmente, do desemprego.

O uso de tecnologias, como a ressonância magnética (foto), é apontado como um dos fatores que eleva a inflação médica - Gustavo Lacerda/Folhapress

O foco das queixas são os contratos coletivos, que representam 80% do mercado e cujos reajustes não são regulados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). As operadoras são livres para definir o aumento e, muitas vezes, isso ocorre de forma abusiva. 

Em 2017, uma pesquisa também do Idec mostrou que três em cada quatro consumidores que entram na Justiça questionando o reajuste de seu plano de saúde coletivo conseguem suspender o aumento porque o entendimento foi de que se tratava de um reajuste abusivo.

Nos casos analisados, a maioria dos planos tinha corrigido a mensalidade em torno de 19% em 2017, mas há casos de 40%, 50%, 70%. De qualquer forma, são reajustes bem acima dos 13,55% definidos pela ANS para os contratos individuais e familiares (ainda assim, bem acima da inflação medida pelo IPCA, de 3%).

Há muitas críticas em relação à atuação da ANS. Recentemente, uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que agência não tem mecanismos eficientes para evitar aumentos abusivos nas mensalidades dos planos.

Segundo o tribunal, desde a criação da agência em 2000 até 2017, as mensalidades foram reajustadas em 40% acima da inflação. As operadoras alegam que os altos índices são decorrentes da inflação dos serviços médicos, que mundialmente é mais elevada do que a medida pelos indicadores oficiais.

A inflação médica de 2017 foi de 17,91%, ou seja, seis vezes maior do que a inflação medida pelo IPCA. O TCU determinou que a ANS realize, em um prazo de 180 dias, um plano para implementar mudanças que inibam reajustes abusivos. Estou muito curiosa para saber o que sairá daí.

A decisão vem num momento em que a Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) sinaliza que o reajuste neste ano deve superar os dois dígitos. Em convite para um evento que reunirá a imprensa na próxima semana para discutir os reajustes, a federação já adianta:

 "Se nos anos anteriores houve comoção em torno dos aumentos, sempre superiores à inflação, este ano deverá ser mais intensa, uma vez que o país registra a inflação mais baixa em 20 anos. Como explicar a necessidade de um reajuste que possivelmente será superior a dois dígitos diante de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) girando próximo de 3% no acumulado de 12 meses?"

Então, senhoras e senhores, preparem os bolsos, ou parafraseando Gregorio Duvivier em ótimo episódio sobre planos de saúde (Greg News, HBO) "vai cuidar do SUS, cuida bem do nosso SUS". 

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