Cada luto que enfrentamos na vida é único. Já tratei neste espaço sobre a avassaladora perda da minha mãe, há dois anos. Agora, estou às voltas com o luto de uma amiga de longa data, uma irmã de alma. Sandra, para os amigos baianos; Magali, para os paulistas; Magu, para o marido; Maga, para mim.
Ela se foi há uma semana consumida por um câncer de pulmão com metástases nos ossos e no cérebro. Enfrentou dores insuportáveis e uma fraqueza muscular que ultimamente a limitava muito no dia a dia.
Mas nunca perdeu a fé e a esperança na cura. Eu, cética e já ciente do péssimo prognóstico da doença, também quis acreditar num milagre. Mas não aconteceu.
Por 22 anos, Maga foi minha amiga inseparável, das boas e más horas. Foi a primeira a abrir o sorriso e os braços e me acolher em São Paulo em um momento pessoal e profissional de muita turbulência.
Falávamos diariamente. Trocávamos muito mais do que risadas, confidências e lágrimas. Sabíamos que tínhamos uma a outra. E isso não é pouco.
Ano passado, Lady Gaga manifestou seu luto pela morte da sua melhor amiga, Sonja Durhame, e disse ter dois sentimentos contraditórios. Primeiro, o de querer viver cada dia com mais paixão, mais determinação e mais compaixão. Afinal, era o que a amiga esperaria dela.
O segundo é ter a sensação de ter sido roubada, de nunca mais poder ter novas lembranças com a amiga. É mais ou menos assim como me sinto.
Tenho buscado artigos sobre como lidar com a morte do melhor amigo, mas tudo o que encontrei até o momento são textos tão amplos e vazios que poderíamos intitulá-los “Como lidar com a perda de _____________ ” e preencher esse espaço em branco com praticamente qualquer coisa.
Em geral, os artigos dão sempre o mesmo conselho que você daria a alguém de luto: não evite a dor, lembre-se de que você não está sozinho, as lembranças permanecem etc.
Não é que essas coisas não sejam verdade. Elas são, mas, em meio a tanta tristeza relacionada a uma experiência muito específica de luto, a repetição do mesmo conselho é simplesmente frustrante.
Harold Ivan Smith é um autor especializado em luto e um dos seus livros mais conhecidos é “Grieving the Death of a Friend” ("em luto pela morte de um amigo", em tradução livre). Segundo ele, ter que dar adeus a um amigo ou a uma amiga é como perder a metade de si e ficar órfão.
Vamos tateando no escuro sabendo que não haverá mais ligações, jantares, chope depois do trabalho, livros para compartilhar, filmes para comentar e problemas para desabafar entre risos e lágrimas.
Sim, tenho meu marido, parceiro de todas as horas, e outras amigas igualmente sensacionais para dividir isso tudo. Mas isso não diminui a dor, não preenche o vazio deixado pela partida tão precoce de Maga.
Em meio a esses questionamentos, coloquei-me a pensar por que a dor de perder um amigo é tão pouco falada ou valorizada? Por que esse luto é tratado como algo “menor” do que quando se perde um familiar “de sangue”?
Talvez porque a nossa sociedade não reconheça o papel de uma amizade dessa magnitude na vida das pessoas.
No momento, a mim basta reconhecer essa dor e saber que precisarei do tempo e de suas agulhas para costurar a ausência da minha amiga, transformando as nossas boas lembranças em um presente para guardar e honrar todos os dias.
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