Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci

Em viagem a turismo, pergunte onde será atendido em caso de emergência médica

Morte de Fernanda Young expõe desassistência em cidades pequenas; socorro foi em ambulância sem paramédico

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A morte da atriz e escritora Fernanda Young, que completa um mês no próximo dia 25, despertou uma nova preocupação para quem busca descanso em cidades turísticas pequenas e pacatas nos fins de semana e feriados: a falta de assistência em caso de uma emergência médica.

Ao sofrer uma crise de asma, seguida de parada cardíaca, em uma madrugada de domingo, Fernanda parece que não teve os socorros necessários em Gonçalves, sul de Minas Gerais, onde se refugiava no sítio da família.

Segundo o portal G1, nos fins de semana, o serviço de ambulância que prestou socorros à atriz funcionava em esquema de plantão sem paramédicos ou enfermeiros. Foi o motorista que levou Fernanda a um hospital em Paraisópolis, a 24 km de Gonçalves. Ela foi atendida por volta da 1h45 e morreu às 2h53.

Em nota, a Prefeitura de Gonçalves informou que não possui profissionais de saúde de plantão nos fins de semana por não ter recursos financeiros. A cidade tem uma população de 4.345 habitantes. A prefeitura disse ainda que estuda a implantação de paramédicos para urgências e emergências do município.

O caso expõe um problema muito frequente em cidades pequenas, famosas ou não pelo turismo. Se nos dias úteis o sistema de saúde desses locais já padece de diversos gargalos, nos fins de semana a desassistência é muito maior.

"Aqui, só Deus mesmo. Se precisar de atendimento médico de urgência, pode começar a rezar", comentou um guia que me acompanhou na visitação às maravilhosas cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), entre as cidades de Apiaí e Iporanga (SP), no último fim de semana.

Comentávamos sobre um capotamento ocorrido na noite anterior em Iporanga, em que as vítimas foram resgatadas por moradores locais e levadas a cidades bem distantes dali para os primeiros socorros. Ninguém soube dizer se o Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) tinha sido ou não acionado. 

Problemas relacionados ao atendimento de urgência e emergência atingem também as grandes cidades. Em São Paulo, um relatório recente feito a partir de pesquisa com funcionários do Samu apontou que em 67% dos chamados de socorro há "um grande atraso" na comunicação com as ambulâncias. O documento mostra uma ficha em que o acionamento de uma das equipes levou quase 12 horas. 

Outra reportagem do Agora mostrou que 32 das 36 motocicletas do serviço estavam encostadas no começo deste mês por falta de manutenção.

No Rio, de Defensoria Pública denunciou que há ambulâncias do Samu sem ar-condicionado e com pneus carecas. A sensação térmica em alguns veículos chega a 50 graus. No início do ano, um médico chegou a ser preso por se recusar a sair em uma ambulância sem ar.  O Rio é a única cidade do país onde o Samu é operado pelo Corpo de Bombeiros. O serviço em outros lugares é de atribuição das prefeituras.

Nas capitais, tem sido frequente o "sequestro" de macas. Em maio último, quatro ambulâncias do Samu ficaram mais de três horas retidas em um pronto-socorro de Cuiabá (MT) por falta de leitos disponíveis na unidade. 

Os veículos chegaram com pacientes para atendimento e não puderam deixar o hospital porque as macas da ambulância, utilizadas no socorro, não eram liberadas. Em cima dela é que os pacientes eram atendidos. Em casos anteriores, os veículos já chegaram a esperar mais de 14 horas no PS.

Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou investimentos na ordem de quase R$ 200 milhões para a ampliação e renovação da frota de ambulâncias do Samu em 642 municípios de 24 estados. Embora necessário, a iniciativa só apaga parte do incêndio. 

Muitos dos problemas vistos no atendimento de emergências refletem buracos no sistema de saúde como um todo. Diante de desorganizadas e/ou insuficientes redes de atenção primária e de média complexidade, muitos pacientes buscam atendimentos básicos nos prontos-socorros, superlotando essas estruturas.

Voltando ao início do texto, sugiro que na próxima viagem de férias, feriado ou mesmo fim de semana você, leitor, se certifique no hotel ou na pousada onde vai ficar qual o serviço de saúde de referência em caso de uma emergência médica. Cidades que vivem do turismo precisam começar a ser cobradas, ou, no mínimo, questionadas sobre isso. Ganham os visitantes, ganham os moradores locais. 

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