Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Cláudia Collucci

Com ou sem aval da Anvisa, plantio de Cannabis medicinal já é realidade no país

Ministro Osmar Terra só enxerga 'lobby maconheiro' e ignora sofrimento de pacientes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Queiram ou não os ministros Osmar Terra (Cidadania) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde), o cultivo da Cannabis medicinal já é uma realidade no país, com famílias e associações de pacientes plantando a erva com ou sem autorização judicial. Ao mesmo tempo, estima-se que existam perto de 200 mil plantadores de maconha atuando ilegalmente no Brasil. 

Uma reunião da diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que analisaria neta terça (8) as propostas de plantio foi adiada para o próximo dia 15. Se não houver um pedido de vistas que poderia atrasar todo o trâmite da proposta, espera-se que até o fim deste mês haja uma decisão sobre o assunto.

Em entrevista à Folha, William Dib, presidente da agência, disse que não cederá às pressões do Planalto para vetar o plantio de Cannabis medicinal no país. Ele defende o cultivo por empresas, em lugares fechados e com dispositivos de segurança.

No entanto, quem já está cultivando em ambiente doméstico promete resistir. O que vai acontecer? Pais e filhos que hoje fabricam esses óleos artesanais à base de Cannabis para seus doentes serão presos?

Como a Folha mostrou, existe um mercado bilionário à espera dessa decisão da Anvisa. No vácuo regulatório e legal, há pacientes consumindo produtos de origem duvidosa, importados ou de fabricação caseira. Até falsários já estão vendendo mistura de azeite como óleo à base de canabinoides.

Sem conseguir bancar produtos importados, muitos pacientes têm ido à Justiça e conseguido aval para que estados e União banquem tratamentos para muitas condições que sequer têm evidências de eficácia e segurança.

Parte dessa judicialização tem sido impulsionada por fabricantes de produtos à base de Cannabis. Elas captam pacientes e orientam médicos sobre a prescrição, em um claro conflito de interesses.

Na ponta final estão famílias que têm encontrado na Cannabis medicinal uma esperança para os seus doentes graves. Conversei com várias delas nas últimas semanas.

O que dizer da história da enfermeira Margarida, 70, que passou os últimos 30 anos da sua vida às voltas com as crises de epilepsia refratária do filho João Pedro? Ele chegou a ter 60 convulsões por dia, passou por mais de cem internações e hoje, com os canabinoides, as crises estão praticamente zeradas.

O ministro Terra parece ignorar o sofrimento dessas pessoas sem opções terapêuticas convencionais, os relatos de médicos conceituados sobre melhoria dos quadros de saúde de seus pacientes e o avanço das pesquisas sobre eventuais benefícios da Cannabis medicinal. 

Continua apegado ao discurso populista e conservador de que existe um poderoso "lobby maconheiro" em curso para a liberação da maconha no país. É isso? Pacientes, médicos, pesquisadores, empresários é tudo um bando de maconheiros?

Sim, é óbvia a existência de lobbies pela regulamentação deste mercado, assim como ocorre em todas as atividades econômicas, como na indústria de bebidas alcoólicas, de tabaco, de agrotóxicos e de alimentos ultraprocessados, só para ficar no mundo das "drogas" legalizadas.

O fato é que, exceto por razões puramente ideológicas, não há motivo algum para o país permanecer nesse limbo regulatório, apenas no papel de importador dos produtos à base de canabinoides, onerando famílias e o poder público, além de ir na contramão de cerca de 40 países que regularizaram a Cannabis para fins medicinais e já estão capitalizando muito com isso.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.