Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci
Descrição de chapéu Coronavírus

Asilos sofrem com falta de proteção e pessoal da saúde para lidar com coronavírus

Pesquisadoras alertam para possibilidade de 'gerontocídio' semelhante ao visto em países europeus

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Há uma população tradicionalmente invisível para a sociedade brasileira e que, com a pandemia de Covid-19, encontra-se em condição de extrema vulnerabilidade, ainda maior do que os idosos de uma forma geral: os anciãos que vivem em instituições de longa permanência (ILPIs), os antigos asilos.

Embora as vigilâncias sanitárias tenham elaborado normas que preveem o isolamento de idosos com suspeita ou confirmação de coronavírus, muitas dessas instituições não têm estrutura física, nem quadro de pessoal capacitado para o cuidado à saúde de pessoas nessas condições.

Na semana passada, a Itália, a Espanha e a França relataram que várias casas de repouso foram dizimadas pelo novo coronavírus. “Quando o vírus entra nesses locais, inevitavelmente ocorre um massacre”, advertiu o departamento de pensionistas do principal sindicato italiano.

Só numa casa de repouso em Gandino, perto de Bérgamo, uma das regiões da Itália mais afetadas pela pandemia, 15 idosos morreram. Em Madri, foram 19 mortes em um único asilo. Muitos idosos foram abandonados e encontrados mortos em seus leitos

Por conta do escândalo, os governos regionais da Espanha vão assumir o controle de asilos e casas de idosos. Na região de Volges, na França, 20 mortes estão sendo investigadas em uma casa de repouso.

No Brasil, três profissionais renomadas no mundo da gerontologia, Helena Watanabe, Marisa Accioly Domingues e Yeda Duarte, da Universidade de São Paulo, lançaram um manifesto alertando para a grave situação que nos avizinha.

Segundo elas, nessas instituições de longa permanência, residem pessoas idosas, sendo a maioria com 80 anos e mais, multimorbidades (duas ou mais doenças crônicas simultâneas) e frágeis, constituindo, assim, um grupo de elevadíssimo risco para contrair a doença e morrer.

Não se sabe ao certo quantas instituições de idosos existem no país. Um censo realizado pelo Ipea em 2010 indicava a existência de cerca de 90 mil idosos vivendo nas 3.600 instituições no país, correspondendo, na época a quase 1% da população idosa do país. A maioria das ILPIs (65%) era filantrópica.

De acordo com as pesquisadoras, um inquérito nacional realizado entre 2016 e 2018 mostrou que cerca de 51 mil pessoas idosas viviam nas instituições públicas e filantrópicas do país sendo 65% semi-dependentes ou dependentes e, portanto, frágeis. Hoje esse número chega a 78 mil pessoas idosas.

Uma questão crucial nesse momento é o fato de as ILPIs não terem estrutura ou recursos humanos para oferecer cuidados específicos de saúde.

“A maioria das ILPIs não tem ou está com muita dificuldade de encontrar os equipamentos de proteção individual, como máscaras, luvas, óculos de proteção, gorros, aventais ou botas impermeáveis para a proteção de seus trabalhadores. Como será possível garantir a proteção desses idosos com essas condições?”, questionam as pesquisadoras.

O estado de São Paulo são cerca de 1.500 ILPIs, a maioria delas com as condições acima descritas acima pelas. Segundo as pesquisadoras, é urgente que os planos de contingência da epidemia cheguem às instituições de idosos, com oferta de EPIs para proteção dos idosos e dos trabalhadores e haja um sistema de referência hospitalar para a ocorrência de casos mais graves.

“Na detecção de uma pessoa idosa contaminada em uma ILPI com poucos recursos, toda a comunidade de residentes estará em risco e será considerada contato. Que providencias serão tomadas? Como protegê-los? Essa instituição será isolada ou seus residentes serão encaminhados aos hospitais caso seus quadros piorem? Será que chegaremos à situação da Itália onde teremos de optar a quem atender e, utilizar o critério etário para isso?”

Elas reforçam que a intenção do manifesto é “evitar a ocorrência de um gerontocídio cruel e desumano.” “Nós estamos gritando pela atenção a essas pessoas que, em sua maioria, não podem mais gritar por ajuda e estão esquecidos nesses locais. É necessária uma ação imediata pois eles não possuem reserva para resistir sem ajuda.”

Segundo elas, isso ocorre de forma especial nas instituições que são pequenas, muitas delas ilegais e desconhecidas.

“Como disponibilizar material e insumos de proteção para profissionais e idosos não onerando as instituições que contam com parcos recursos financeiros para a gestão dos serviços? A quem compete prover tais materiais? Qual a rede de referência na área da saúde que esses equipamentos poderão contar para prover os cuidados adequados frente a Covid-19? Como será realizado esse fluxo de atendimento/encaminhamento de casos suspeitos, se forem necessários?

A sociedade espera respostas a todas essas perguntas. Ou será que só as teremos quando começarmos a noticiar o horror vivido pelos países europeus?

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