Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci

Sob ataque e recorde de mortes, enfermagem recebe homenagem do papa Francisco

Brasil registra ao menos 98 mortes desses profissionais, 38% das computadas no mundo

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Nesta terça (12), Dia Internacional da Enfermagem, o papa Francisco fez uma bonita homenagem aos profissionais: "É mais do que uma profissão, é uma vocação, uma dedicação. Neste tempo de pandemia, deram exemplo de heroísmo e alguns deram a vida".

O papa pede para que rezemos pelos enfermeiros e enfermeiras. O pessoal da enfermagem representa a maior força de trabalho da saúde no país: 2,3 milhões.

Cada um de nós, ao seu modo e com suas crenças, deveríamos, sim, agradecer a esses profissionais que estão na linha de frente dos cuidados não só da Covid-19 como de muitas outras condições de saúde.

Mas não é só isso. Precisamos também apoiá-los nas reivindicações por melhores condições de trabalho nesta pandemia, como a oferta básica de equipamentos de proteção individual.

Há relatos de profissionais que cumprem turnos de 12 horas sem tirar a roupa de proteção porque não têm outra, caso saiam para comer, ou de gente que está usando fraldas para não precisar ir ao banheiro.

A insegurança ocupacional se reflete nos números de contaminados e mortos pela Covid-19. Levantamento do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) mostra que entre 5 de abril e 5 de maio o número de suspeitos e confirmados da doença passou de 230 para 11 mil. As mortes, de 30 para 98.

O Brasil responde por 38% dos óbitos de enfermeiros de todo o mundo. Ao menos 260 desses profissionais já morreram, segundo Conselho Internacional dos Enfermeiros. Já passamos até os EUA, que registraram 91 mortos na enfermagem.

Isso sem contar o estresse emocional a que esses profissionais estão sendo submetidos diariamente, seja pelo luto de colegas mortos, pelo risco do contágio ou pelo medo de levar o vírus para casa e contaminar a família.

Diante desse cenário de horror, seria impensável qualquer tipo de hostilidade contra esses profissionais Mas aconteceu no último dia 1º, quando um grupo de enfermeiros saiu às ruas em Brasília para homenagear os colegas que perderam a vida no combate à infecção por coronavírus e pedir o isolamento social. Um ato pacífico e silencioso.

Como resposta, foram atacados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Diante dessa violência gratuita, houve alguma manifestação de repúdio do presidente? Algum gesto de apoio a esses profissionais que certamente fizeram muito por ele na recuperação das três cirurgias a que foi submetido desde setembro de 2018, quando foi alvo de uma facada?

Algum agradecimento em relação às vezes em que contou com a enfermagem para puncionar a sua veia e receber medicação durante as internações? Ou para receber alimentação por meio de uma sonda nasogástrica? Ou ainda recolher suas fezes retidas na bolsa de colostomia?

Nada, nada, nada. Ao ser questionado sobre a violência, o presidente mandou uma jornalista "calar a boca".

Uma enfermeira agredida na manifestação relata o que sentiu ao chegar em casa naquele dia: "Fui dominada por um sentimento de desilusão, de abandono. Como é possível lutar para cuidar das pessoas se parte da população nos agride?"

Felizmente, ela teve a resposta logo depois, com uma enorme quantidade de mensagens de apoio, e se certificou de que a violência vem de uma minoria.

Nesta terça (12), a categoria recebeu homenagens de várias capitais brasileiras. Em Belo Horizonte (MG), uma projeção no Edifício JK exibia a mensagem: "Sem enfermagem não tem Brasil". Não tem mesmo. Parabéns, guerreiros!

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