Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Investir em cidades resilientes é essencial para vida saudável

Áreas urbanas deverão suportar mudanças climáticas e crescimento populacional

Sistemas resilientes são aqueles que, pela natureza, projeto e funcionalidade, absorvem os impactos a que são submetidos e, em algum momento, voltam inalterados ao estado original.

Se transportarmos esse conceito para as áreas urbanas, poderíamos defini-las como aquelas que têm a capacidade de resistir, absorver, de se adaptarem e se recuperarem da exposição a ameaças naturais ou produzidas pelo homem.

O crescimento populacional, os seus efeitos na ocupação dos territórios urbanos e as mudanças climáticas podem ter consequências importantes nos modelos de desenvolvimento existentes, tornando extremamente relevante a transformação das áreas urbanas em espaços resilientes.

A velocidade do crescimento urbano é impressionante. Segundo o Departamento de Estudos Econômicos e Assuntos Sociais da ONU, são incorporadas às cidades em todo o mundo 1,4 milhão de pessoas por semana. Além disso, mais de 60% das regiões que se tornarão urbanas em 2030 ainda não foram desenvolvidas. Portanto, temos necessidade e condições para estruturar modelos de resiliência eficientes em áreas urbanas.

Bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo
Bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo - Nelson Antoine/Folhapress

Recente relatório do Banco Mundial alerta que, se não houver investimentos significativos para tornar as cidades do mundo resilientes, os efeitos das mudanças climáticas podem elevar em 77 milhões o número de residentes urbanos vivendo na pobreza nos próximos 13 anos. A baixa resistência das cidades é especialmente perigosa para os mais pobres. Ocupações informais e irregulares, normalmente localizadas em áreas de risco e onde falta infraestrutura, abrigam hoje, globalmente, 881 milhões de pessoas, aproximadamente 28% a mais do que em 2000.

Ainda segundo o relatório do Banco Mundial, a necessidade de investimento em infraestrutura urbana nos próximos anos deve ser algo em torno de US$ 5 trilhões (R$ 16 trilhões) anuais. Executar essas obras com baixa emissão de carbono, e capacidade de resistir aos efeitos climáticos, pode agregar a essa cifra mais US$ 1,5 trilhão (R$ 4,8 trilhão).

E isso é somente uma estimativa parcial do investimento necessário para tornar as cidades resilientes, uma vez que o número se concentra apenas na infraestrutura urbana. Não foram estimados os custos adicionais para reforço por meio de investimentos em saúde pública, sistemas urbanos mais robustos, medidas antiterroristas e outras ações sociais e ambientais.

Os investimentos em resiliência podem ser divididos em três categorias principais.

Na primeira categoria, enquadram-se os investimentos que não geram retorno financeiro e devem, portanto, ser efetuados pelos governos. Contudo, as ações podem, de forma indireta, colaborar com o fortalecimento da estabilidade social, causando impacto positivo no crescimento econômico.

Aplicações que geram retorno abaixo das expectativas do mercado constituem-se na segunda categoria. Para esses projetos, os fluxos de caixa podem não ser suficientemente previsíveis para atrair capital privado, em função da percepção dos riscos envolvidos. Os governos, neste caso, podem trabalhar para melhorar o retorno do investimento, por meio da implementação de seguros de risco ou garantias de crédito.

Por último, aportes que geram taxas de retorno atrativas. Para esse caso, existirão recursos privados se houver projetos bem elaborados, com regulação institucional estável e amigável aos investidores.

Atualmente, não existem padrões e métricas universalmente aceitas para definir projetos sustentáveis e resilientes. Entretanto, é consenso geral entre os investidores que a promulgação de padrões comuns poderia potencialmente disponibilizar quantidades significativas de capital.

Viabilizar investimentos na produção de espaços urbanos resilientes não é só uma alterativa importante em um cenário de adversidades que se prenuncia, mas também uma necessidade imperiosa, caso todos queiram ter uma vida urbana mais segura e saudável.

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