Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes
Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Uso pontual de edifícios vazios pode melhorar sua imagem e a da vizinhança

Prédios com aparência mais viva e atraente tendem a ser mais bem cuidados pelos usuários

A tragédia que aconteceu recentemente no centro de São Paulo, quando um prédio abandonado e invadido por integrantes de movimentos sociais sofreu um incêndio que culminou com seu desmoronamento, deve nos fazer refletir de forma mais detida sobre como evitar o abandono de edifícios em nossas cidades.

Em todo o país, edifícios desocupados são um problema, principalmente nas grandes cidades. Prédios abandonados atraem o crime, e podem se tornar focos de incêndio e de uso de drogas. Além disso, seu entorno pode se transformar num depósito informal de móveis velhos, entre outros detritos, e de carros abandonados. Em São Paulo, temos quase uma centena de prédios abandonados, invadidos em sua maioria por pessoas carentes de habitação, onde esses riscos são uma realidade.

E por que os edifícios são abandonados? Existem várias razões para a ocorrência desse fenômeno, que pode acontecer de forma pontual, mas, muitas vezes, comprometendo uma região específica.

A constante transformação das cidades faz com que determinadas atividades mudem sua localização, necessitando de instalações mais modernas ou diferenciadas, e os edifícios que antes serviam para determinada atividade devem ser transformados para abrigar outras.

Porém, quando a demanda por determinada região decresce, em função da deterioração de suas condições de infraestrutura ou alteração de vetores de mercado, a reforma dos prédios e sua adaptação a novas realidades pode ficar comprometida. Esse fenômeno promove uma deterioração em cadeia, que se expande para outros edifícios do entorno, numa espiral de desvalorização.

Edifícios abandonados muitas vezes são de propriedade pública, e não raro esses ativos não são priorizados por falta de interesse, por questões políticas, ou mesmo por incompetência administrativa, e isso se torna um grande problema para as cidades.

Obviamente, devemos estar atentos para que esse processo danoso não se instale em determinadas regiões das cidades. Porém, uma vez instalado, precisamos tomar as atitudes necessárias para revertê-lo, recuperando a capacidade dessas regiões de se regenerar, com isso possibilitando a reintegração dos edifícios e espaços abandonados na matriz econômica e social do município.

Cada situação terá uma solução específica. Mas, na impossibilidade de uma solução definitiva, muitas vezes o uso temporário de edifícios vazios, por exemplo, para jardinagem urbana ou atividades comunitárias, pode ter um efeito positivo e melhorar a imagem do bairro, bem como o próprio espaço.

Como regra geral, os edifícios que têm uma aparência mais viva e atraente tendem a ser mais bem cuidados pelos usuários. Ao contrário, deixar um prédio sem a manutenção necessária pode ser o fator indutor de sua deterioração, devido ao vandalismo ou à apropriação indevida. A aparência visual de uma cidade é influenciada pela qualidade das áreas ocupadas, e a reversão imediata de processos de degradação dá nova vida a espaços subutilizados, além de evitar uma reação negativa em cadeia.

Outro fator importante para evitar o abandono de prédios é a aprovação de legislação que facilite a ocupação de edifícios existentes, seja na forma de sua adaptação física a novas atividades, ou em reformas mais profundas em sua estrutura e compartimentação. Muitas vezes, as dificuldades burocráticas e legais para colocar um antigo edifício em operação induzem ao abandono e à degeneração.

De qualquer forma, essas ações, associadas a uma fiscalização mais contundente por parte do poder público municipal –mesmo que seja necessária a aprovação de uma nova legislação para regular o assunto–, poderão ajudar a manter os edifícios em condições de utilização, e com uma aparência visual que estimule a melhoria de seu entorno, e não sua degradação.

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