Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Boston tem laboratório para tentar solucionar problemas de habitação

Projetos buscam dar aos munícipes acesso fácil ao trabalho e a áreas de lazer da cidade

Em 2015, foi construída a primeira casa em uma impressora 3D. Desde que os homens começaram a habitar as cavernas, iniciou-se uma contínua procura pelas melhores formas de moradia, e os modelos sofreram transformações ao longo da história.

Com o fim da era do gelo, teve início um novo período e uma nova forma de morar. A população do Oriente Médio, por volta do ano 8.000 a.C., desenvolveu a técnica de preparar tijolos de argila secos ao sol, para utilizá-los na construção de casas.

Por volta de 4.000 AC, a agricultura se espalhou pela Europa e, com a prática do cultivo, as pessoas deixaram as tendas feitas de peles de animais e passaram a morar em cabanas de pedra ou pau a pique, com telhados de palha.

Os modelos, tipos de habitação e formas de morar vêm experimentando mudanças ao longo dos tempos.

Ciente da importância de um processo de evolução habitacional coerente e cientificamente estruturado, o prefeito de Boston, Martin J. Walsh, criou, em 2014, um laboratório de Inovação em Habitação (iLab).

Walsh reconheceu a necessidade de um melhor entendimento acerca dos mecanismos habitacionais e sua conexão com o mercado imobiliário, para ajudar a prefeitura a atender às crescentes necessidades de habitação.

Em 2015, com o aporte inicial de recursos dado pela Bloomberg Philanthropies Innovation Team Grant, o iLab foi implantado e, em 2017, a cidade de Boston comprometeu-se com o investimento necessário para garantir a continuidade desse trabalho.

Os dirigentes do iLab reconhecem que o crescimento da cidade deve ser planejado com um cuidadoso equilíbrio entre áreas adensadas e não adensadas, para garantir a qualidade de vida nas áreas urbanas. Mais importante que isso, deve-se assegurar que esse crescimento crie oportunidades habitacionais para as pessoas de todos os níveis de renda.

Na busca pelo desenvolvimento de novos modelos habitacionais e sua inserção no tecido urbano, o iLab vem desenvolvendo vários projetos importantes que podem, no futuro, ser soluções relevantes não só para Boston, mas para outras cidades do mundo.

O projeto Vida Compacta, que ajudará Boston a construir habitações mais bem planejadas e localizadas, tem como objetivo criar espaços onde as pessoas tenham acesso fácil ao trabalho e ao lazer, com unidades menores e próximas a empregos e áreas comunitárias, com opções de transporte que reduzam o uso do carro.

Outra ideia que está sendo estudada é a que envolve a conexão de edifícios públicos com habitação. Explora maneiras de otimizar os recursos da cidade, localizando ativos municipais, como bibliotecas, centros comunitários e escolas, entre outros, junto com moradias.

Outro projeto interessante é o compartilhamento habitacional intergeracional. Partindo do crescimento da população idosa, da tendência de seu isolamento social, da diminuição de renda e do aumento das despesas de manutenção predial, surgiu a ideia de compartilhamento de quartos desocupados nas residências dos idosos com estudantes universitários.

Estudos apontam que existem hoje nos EUA mais de 3,6 milhões de quartos vazios que poderiam ser alugados. Só em Boston, que tem uma população de 685 mil habitantes, existem mais de 38 mil quartos vagos em residências ocupadas por idosos.

Esses projetos, entre outros, como inovações tecnológicas residenciais, incentivos para produção habitacional por meio de bônus construtivos, estudo de legislação para descomplicar e dar maior segurança ao processo de aquisição da moradia, e incentivo à produção de moradias para locação, fazem parte do leque de estudos que estão sendo desenvolvidos de forma estruturada pelo iLab de Boston.

Por que não utilizarmos no Brasil essa ideia, dando maior celeridade ao desenvolvimento de nossos modelos habitacionais e sua integração com o mercado imobiliário? Fica a sugestão para os nossos governantes.

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