Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

O papel das agências humanitárias no funcionamento das cidades em estado de guerra

Nos conflitos armados atuais, centros urbanos e áreas residenciais tornam-se campos de batalha

A operação e o planejamento das cidades, todos sabemos, não é uma tarefa simples. Mas como seria administrar o funcionamento de uma cidade em estado de guerra? Quais as consequências para as áreas urbanas e os impactos no dia a dia das pessoas?

Nos conflitos armados atuais, centros urbanos e áreas residenciais tornam-se campos de batalha. De maneira cruel, as guerras se mudaram para as vidas cotidianas, para as cidades e os lares de pessoas comuns.

Relatório publicado pelo CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) relata as pesquisas de mais de 30 anos em áreas urbanas em conflito, combinadas com estudos mais profundos realizados no Iraque e em Gaza.

Atualmente, cerca de 50 milhões de pessoas no mundo são afetadas por conflitos armados em áreas urbanas, produzindo efeitos que vão além dos sinais visíveis de destruição.

Quando uma cidade está em estado de guerra, a infraestrutura vital que faz as comunidades funcionarem é danificada ou destruída. Isso significa a possibilidade de não haver o abastecimento de água potável e energia elétrica, ou de ter serviços de saúde em funcionamento.

Os conflitos armados podem causar impactos diretos e cumulativos nas cidades. Configuram-se como impactos diretos os danos à infraestrutura urbana, a morte de técnicos e equipes de reparação, a pilhagem de lojas, hospitais ou armazéns de prestadores de serviços, e a remoção de peças diretamente da infraestrutura de serviços. O impacto cumulativo refere-se à deterioração, em longo prazo, do desempenho de serviços essenciais.

Lidar com esses impactos, quando existe a impossibilidade de atuação das autoridades municipais, passa a ser a principal abordagem de muitas agências humanitárias. Além de providenciar o transporte de água para centros de saúde e alojamentos, essas agências executam os reparos necessários nas redes municipais de infraestrutura mais críticas, para tentar garantir os serviços nos domicílios em situações de emergência. Contudo, muitas vezes, a magnitude da destruição está além da capacidade técnica e financeira dessas agências.

Em muitas situações, as autoridades municipais, em função da crítica falta de peças de reposição, canibalizam outros equipamentos de menor importância para reparar outros sistemas e equipamentos. Embora isso resolva o problema momentaneamente, provoca a total incapacidade de operação dos sistemas de infraestrutura no decorrer do tempo, mesmo após o fim dos conflitos armados.

Muitas vezes, o solo e as águas subterrâneas são contaminados, entre outras razões, pela liberação de policloreto bifênilo existente em centenas de transformadores elétricos danificados em explosões. Se a contaminação é extensa, a necessidade de rápida descontaminação torna-se prioridade, pois as consequências ambientais são importantes e prolongadas.

Os organismos de assistência humanitária têm tido papel extremamente relevante na vida das cidades em conflito armado, trabalhando pelo reestabelecimento dos sistemas de saneamento destruídos pela guerra, apoiando as instalações de áreas de saúde em hospitais e centros ortopédicos, implantando clínicas móveis e treinando moradores locais para determinadas funções.

Na Síria, por exemplo, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha mantém o abastecimento de água, o gerenciamento de resíduos e a infraestrutura de energia elétrica para 18,5 milhões de pessoas.

A assistência humanitária foi considerada um socorro de curto prazo. Mas é cada vez mais uma necessidade em áreas de conflitos armados prolongados em áreas urbanas.

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