Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Cidades também devem ser projetadas para os deficientes auditivos

Espaços públicos precisam garantir comunicação visual para quem usa linguagem de sinais

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Pode parecer óbvio que, se as cidades são projetadas para as pessoas, todas deveriam ser incluídas nesse processo. Mas, infelizmente, a realidade não reflete essa lógica.

Segundo a ONG “G3iTC”, que promove o direito das pessoas com deficiências na era digital, à medida que mais cidades adotarem novas tecnologias para torná-las mais inteligentes e melhorar o bem-estar econômico e social, idosos e pessoas com deficiência serão cada vez mais excluídos.

Em uma pesquisa realizada com 250 especialistas em todo o mundo, cerca de 60% dos entrevistados disseram acreditar que cidades inteligentes estão falhando com pessoas que têm algum tipo de deficiência.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem hoje no mundo 466 milhões de pessoas com deficiências auditivas, número que poderá chegar a 900 milhões em 2050. Sem dúvida, todas as pessoas com algum tipo de deficiência devem ter especial atenção nos projetos das cidades. Contudo, pensar as cidades para aqueles cidadãos com deficiência auditiva é urgente.

Andar pelas ruas movimentadas de uma cidade muitas vezes é uma tarefa irritante e confusa para quase todos. Para as pessoas com deficiência auditiva, a confusão visual e vibratória impede que elas se movam adequadamente pelos espaços urbanos e pode até colocá-las em situações de risco e perigo.

Segundo pesquisadores da Universidade de Galaudette, nos EUA, as pessoas que se comunicam com linguagem de sinais precisam ser capazes de se ver e, ao mesmo tempo, ver para onde estão indo. A universidade publicou um guia para orientar a produção de espaços para deficientes auditivos, que aborda as principais caraterísticas de espaços urbanos projetados para incluir essas pessoas.

Alcance sensorial é um dos principais aspectos a ser abordados. Espaços que proporcionem amplitude de 360 graus, considerando os enfoques visuais e táteis, como sombras e vibrações, podem ajudar as pessoas surdas a lerem de forma mais completa o ambiente ao seu redor.

O layout dos espaços e do mobiliário urbano, considerando as distâncias necessárias para que se possa manter a comunicação visual clara para a compreensão da comunicação por símbolos gestuais, é altamente relevante para a inclusão dessas pessoas nas cidades.

De maneira geral, a construção de espaços para pessoas com deficiência auditiva está vinculada à criação adequada de locais para a comunicação com a linguagem de sinais. A maioria das cidades não é projetada para pessoas surdas. As calçadas são, frequentemente, muito estreitas ou congestionadas para elas desenvolverem uma conversa que exige o chamado "espaço para sinalização". Bancos públicos são, quase sempre, colocados em fileiras, limitando a capacidade dessas pessoas de criar "círculos de conversação" e abrir linhas de visão exigidas para o diálogo de sinais.

Pensar nas interferências acústicas, reduzindo ou removendo reverberações,vibrações e ruídos de fundo, pode também acomodar pessoas com diferentes graus de perda auditiva em sua relação com os espaços urbanos.

Com esses conceitos em mente e liderando uma importante iniciativa que deveria ser replicada em outros países, a Universidade de Glaudette está trabalhando com empreendedores imobiliários em Washington (EUA). O objetivo é construir um complexo de 120.000 metros quadrados, com usos residenciais e comerciais, dos quais 5.000 metros quadrados serão projetados e adaptados especialmente para serem ocupados por pessoas com dificuldades auditivas.

Embora existam movimentos importantes na direção da construção de espaços urbanos para pessoas com deficiência auditiva, é ainda um grande desafio entender realmente como as pessoas com diferentes graus de surdez movimentam-se pelos espaços e os utilizam, para que, a partir desse entendimento, seja possível projetá-los de forma mais eficiente.

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