Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Beleza urbana e crescimento econômico

Cidades com locais mais belos tiveram aumento superior na população e nos empregos

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"As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental". Pesquisas recentes têm mostrado que essa célebre frase do poeta Vinicius de Moraes se aplica perfeitamente às cidades quando o assunto é crescimento econômico.

Estudo desenvolvido por Albert Saiz, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e Gerald Carlino, do departamento de pesquisas do “Federal Reserve Bank”, examinou a relação existente entre a beleza da cidade e os principais indicadores de crescimento econômico.

 

A primeira variável examinada no estudo foi a atratividade da cidade, avaliada por meio de aproximadamente três milhões de fotos postadas a partir de imagens georreferenciadas no Google Maps, com o uso da plataforma “Panoramio”, um website especializado em fotos de paisagens cênicas.

A partir dessas análises, o estudo encontra evidências de que realmente existe um diferencial do ponto de vista econômico nas cidades com maior beleza. Cidades com duas vezes locais mais belos e pitorescos tiveram um crescimento 10% superior na população e nos empregos, entre 1990 e 2010.

Além disso, essas cidades atraem um maior número de graduados universitários. As cidades situadas entre as 25% mais belas tiveram um crescimento quase 3% maior no número de graduados. Isso revela, segundo os pesquisadores, que o fator beleza urbana se assemelha à redução de impostos, no que diz respeito ao efeito de indução ao crescimento, tanto populacional quanto econômico.

A beleza urbana também resulta em preços imobiliários mais altos e maior valorização da moradia. Os valores de moradia foram 16% mais altos no quartil superior das cidades pitorescas, de acordo com o estudo.

Não podemos dizer que a beleza das cidades seja um atributo exclusivamente natural, e está também relacionada a políticas públicas e investimentos, tanto públicos quanto privados. Muitos locais têm uma beleza natural maior que outros, mas todas as cidades podem tornar-se belas investindo adequadamente nos espaços públicos e na proteção de sítios históricos. 

De fato, o estudo revelou que investir 10% a mais em parques e recreação resulta em aumento de 2,3% na utilização para lazer e elevação de 1,3% nos empregos na indústria do turismo.

Os resultados da pesquisa apontam que a beleza das cidades é uma ferramenta poderosa para o crescimento econômico e a recuperação urbana. Contudo, podem existir efeitos colaterais. Nos bairros urbanos mais bonitos, em função do crescimento econômico, os aluguéis, a renda e o nível educacional aumentam mais rapidamente, mas ao custo do deslocamento de parte da população com menor renda.

Parte das pessoas, induzidas pela valorização imobiliária que ocorre em função desse processo de mudança socioeconômica, preferem vender seus imóveis e ganhar algum dinheiro indo morar num imóvel de menor valor. Outras, porém, acabam realmente perdendo as condições econômicas de morar nessas regiões, sendo obrigadas a mudarem para outros locais.

Esse fenômeno inexorável deve ser compreendido e solucionado pelos formuladores de políticas urbanas. Não é aconselhável, obviamente, em função desses efeitos colaterais, evitar o crescimento e a melhoria das cidades.

Dessa forma, parte dos recursos públicos suplementares gerados pelo crescimento econômico, relacionados principalmente com uma maior arrecadação tributária, resultado da valorização imobiliária e do aumento da atividade econômica, deve ser direcionada para a realocação das pessoas eventualmente atingidas por esse processo.

Esses recursos podem e devem também ser utilizados para o embelezamento de outras regiões da cidade e, com isso, alavancar o processo de crescimento econômico que pode ser gerado com a melhoria plástica e estética dos espaços urbanos.

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