Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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O impacto dos trens de alta velocidade na transformação urbana

Efeitos no entorno das estações dependem de suas características espaciais e de intervenções estatais

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Os Trens de Alta Velocidade (TAV) são realidade em vários países. Em muitos outros, inclusive no Brasil, ainda são projetos de médio e longo prazo. Contudo, conhecer as externalidades produzidas pelas redes e estações de trens de alta velocidade, em termos de transformações urbanas, é essencial para otimizar a utilização em países onde ainda estão em fase de projeto. Os vários estudos e experiências existentes sobre as redes de TAV podem ser o ponto inicial do desenvolvimento desse conhecimento.

A variação dos preços imobiliários, associada à tipologia da cidade e ao contexto urbano no qual a estação está inserida, pode ser um indicador das consequências da implantação de uma estação de TAV. Todavia, a relação entre a qualidade das transformações urbanas, a acessibilidade e os valores imobiliários pode estruturar uma abordagem científica capaz de mensurar, quantitativa e qualitativamente, os impactos da implantação de uma nova estação de TAV.

Trem de alta velocidade perto da cidade de Lesquin, no norte da França
Trem de alta velocidade perto da cidade de Lesquin, no norte da França - Philippe Huguen/AFP

As mudanças provocadas pelas redes de TAV podem ser pontuais ou estruturais. Em função dos níveis de acessibilidade criados à semelhança do efeito de vasos comunicantes, pode haver um equilíbrio macrorregional por meio da indução à redistribuição da ocupação e do adensamento. Nos nós da rede, em razão do vetor criado, os efeitos da ocupação em seu entorno são magnificados sob vários aspectos. À medida que melhoram as interconexões modais nas estações, ampliam-se as transformações urbanas microrregionais.

Os efeitos no entorno das estações podem ser potencializados por transformações induzidas pelo poder público, tendo como origem as redes de TAV. Esse é o caso, por exemplo, da linha Paris-Londres, que liga a cidade francesa à estação londrina St. Pancras. Isso estimulou a completa reurbanização da região King’s Cross-St. Pancras, criando um novo centro urbano que revolucionou a ocupação local.

Contudo, a intensidade dos impactos das redes de TAV nas áreas urbanas depende da conjugação de uma série de fatores, principalmente das características espaciais da estação e de seu entorno, do tipo e da extensão de eventuais intervenções planejadas pelo poder público. As estações localizadas em áreas centrais, subcentrais ou periféricas das cidades devem produzir resultados diferentes na transformação urbana.

Quando as linhas de TAV conectam áreas metropolitanas distantes, ligando uma cadeia de cidades, pode ser criado um corredor econômico integrado, facilitando as conurbações lineares. Esse é o caso, por exemplo, da conexão entre Xangai, Namjing e Hangzhou, na China. Embora tenha configurado um corredor econômico, não existem indicações claras de como se darão as redistribuições econômico-espaciais em seu entorno a longo prazo.

A falta de conhecimento pleno das repercussões das redes TAV nas transformações urbanas implica cautela na análise dos efeitos e no planejamento urbano a partir dessas intervenções. Na China, por exemplo, segundo a doutora Chia-Li Chen Xian, professora de planejamento urbano da Jiaotong-Liverpool University, a ideia de Desenvolvimento Orientado pelo Transporte (DOT) foi utilizada nas redes de trens de alta velocidade. Mas, em alguns casos, esses ambiciosos planos geraram uma inadequada expansão urbana, mesmo contra os princípios básicos do DOT, como capacidade de locomoção a pé, habitabilidade, vitalidade, conectividade e uso misto.

Existe uma crescente percepção que os impactos positivos das redes de TAV nas cidades somente poderão ser maximizados quando esse processo fizer parte de uma ampla e abrangente visão de desenvolvimento urbano. Segundo especialistas, as dinâmicas urbanas e as relacionadas com as redes de TAV devem reforçar uma à outra, de tal forma que as últimas possam se tornar catalisadoras de uma reestruturação econômica e espacial benéfica para as cidades.

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