Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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A informação digital na comprovação de teorias urbanísticas

Tecnologia facilita aplicação de modelos que se propõem a entender as cidades

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Uma das obras com grande influência no planejamento urbano, sem dúvida, foi o livro Death and Life of Great American Cities, escrito em 1961, por Jane Jacobs. Em seu livro, Jacobs argumenta que atividades vibrantes só podem florescer nas cidades quando existe diversidade no ambiente. Essa diversidade, diz ela, exige quatro condições.

A primeira é que os distritos da cidade devem conter mais de duas funções para atrair pessoas com propósitos diferentes, em diferentes momentos do dia e da noite. Em segundo lugar, os quarteirões da cidade devem ser pequenos, com interseções adequadas para gerar oportunidade de interação entre os pedestres. A terceira condição é que os edifícios devem ser diversos em termos de idade e forma, para possibilitar a mistura de moradores de baixa e alta rendas. Finalmente, um distrito deve ter uma densidade apropriada de pessoas e edifícios.

Panorama de São Paulo
Panorama de São Paulo - Leila Fugii; Adobe Stock

No entanto, essas condições não haviam sido empiricamente aferidas até 2015, quando cientistas sul-coreanos, objetivando testar as ideias de Jacobs, publicaram os resultados de um estudo elaborado ao longo de dez anos sobre a atividade de pedestres em Seul. No entanto, os dados foram coletados em grande parte por meio de pesquisas in loco com os pedestres, em um processo demorado, caro e, geralmente, impraticável para uso na maioria das grandes cidades modernas.

Utilizando-se de um processo alternativo que se mostrou bastante eficiente, pesquisadores liderados por Marco De Nadai, da Universidade de Trento, na Itália, obtiveram informações sobre as atividades das pessoas a partir de dados disponíveis em telefones celulares.

Dados sobre a mobilidade pessoal foram fornecidos pela maior operadora de telefonia celular da Itália, a partir da localização geográfica dos usuários. Conectando esses dados com informações sociodemográficas e relativas ao uso e ocupação do solo, puderam ser extraídas as variáveis necessárias para testar, de forma eficiente, em seis cidades italianas, as quatro condições de Jacobs.

A densidade de atividades em cada distrito foi obtida pelo número médio de conexões pela Iinternet durante um dia típico de trabalho, dividido pela área do distrito. As quatro condições foram analisadas separadamente, mas sempre tendo a densidade de atividade do distrito como variável.

Embora outras cidades sejam muito diferentes dos lugares para as quais as condições de Jacobs foram explicitadas –cidades americanas– e dos estudos efetuados em Seul, os pesquisadores confirmaram que aquelas condições estão também fortemente associadas à vida urbana na Itália.

Os pesquisadores concluíram que, até agora, a comunidade científica contava com poucos conjuntos de dados que refletissem como um grupo de pessoas experimenta a cidade. O desenvolvimento desse trabalho deixa claro que dados da internet e de dispositivos móveis registram fatos e maneiras sobre as quais a maioria dos moradores urbanos experimenta cidades inteiras. Dados da web –especialmente do Open Street Map– estão disponíveis em todo o mundo, e registros de telefones celulares são cada vez mais disponibilizados publicamente pelas operadoras de telecomunicações, em busca de novos modelos de negócios.

A utilização da informação digital permitirá que estudos como esse possam ser replicados em larga escala, sem que seja necessário recorrer a longas e onerosas coletas de dados baseadas em pesquisas. Ao coletar informações de telefones celulares, mídias sociais e plataformas participativas, os pesquisadores confiarão cada vez mais em conjuntos de dados, extremamente mais ricos em conteúdo que as informações urbanas coletadas até então. Dessa forma, será possível testar teorias urbanísticas tradicionais de forma detalhada, numa nova e revolucionária maneira de compreender as cidades.

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