Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Coronavírus

Coronavírus, isolamento social e recessão econômica

Duração, frequência e intensidade ideais de distanciamento permanecem incertas

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Diante da grave crise gerada pelo novo coronavírus, aparentemente sem outra alternativa, considerando o rápido crescimento do número de infectados, de mortos e o esgotamento da capacidade de atendimento aos casos mais graves nos hospitais, praticamente o mundo todo adotou a política de distanciamento social. Contudo, ela foi implantada sem a compreensão exata dos limites de sua eficiência e dos efeitos econômicos da medida.

Em recente estudo publicado pela Universidade de Harvard, nos EUA, por meio de modelagens matemáticas, os pesquisadores procuraram determinar a eficiência do distanciamento social, as possíveis ressurgências do surto e seu comportamento do ponto de vista sazonal ao longo do ano.

Os cientistas concluíram que, quanto mais eficiente o isolamento social, menor o índice de imunização das pessoas e, portanto, mais elevada a probabilidade de ressurgência do surto. Verificaram também que a intensidade do surto pode variar de acordo com a estação do ano. Nos meses de verão, por exemplo, pode haver um melhor controle da epidemia, mas sua ressurgência no outono pode ser mais intensa. O estudo mostra, ainda, que ações intermitentes de isolamento social podem ser necessárias para controlar a epidemia até o ano de 2022, caso outras medidas não sejam adotadas.

O que pode alterar esse quadro parece ser, além do aumento da capacidade de atendimento de pacientes em estado grave, a descoberta de uma vacina ou de abordagem terapêutica eficiente, que evite a internação de doentes nas Unidades de Terapia Intensiva.

Estudos de modelagem e a experiência com o surto em Wuhan, na China, indicam que a capacidade de cuidados intensivos, mesmo em países de alta renda, pode ser excedida várias vezes se medidas de distanciamento não são implementadas com rapidez ou energia suficientes. Dessa forma, o distanciamento social prolongado ou intermitente pode ser necessário. No entanto, a duração, frequência e intensidade desse distanciamento permanecem incertas, principalmente na presença de sazonalidade.

Desse distanciamento social surge a pergunta: quais serão efetivamente os seus efeitos econômicos?

Difícil prever. Contudo, recente trabalho publicado por economistas do MIT (Massachussets Institute of Tecnology) e do Federal Reserve Bank of New York analisou os resultados econômicos do distanciamento social que ocorreu por ocasião da gripe espanhola, em 1918, nos EUA, e os resultados podem nos dar indicativos daquilo que está por vir do ponto de vista econômico.

Segundo a publicação, os resultados econômicos da gripe de 1918 foram muito diferentes em distintas cidades, dependendo da resposta à pandemia. O estudo, que analisou 43 cidades, descobriu que as áreas que atuaram de forma mais agressiva para limitar atividades e interações físicas entre as pessoas tiveram maior crescimento econômico após a pandemia.

À época, as cidades que tiveram melhor desempenho pós-epidemia aplicaram mais de 120 dias de distanciamento social. As cidades que mais sofreram no pós-crise tiveram menos de 60 dias de distanciamento social. A duração média das políticas de distanciamento social para as cidades analisadas foi de 88 dias, segundo os pesquisadores.

O estudo mostra, ainda, que as cidades que implementaram o distanciamento social e outras intervenções de saúde pública apenas dez dias antes das outras cidades tiveram um aumento relativo de 5% no emprego industrial após o término da pandemia.

Os pesquisadores alertam, no entanto, que a natureza complexa das modernas cadeias de suprimentos globais, o papel destacado dos serviços nos dias de hoje, as melhorias na comunicação e o nível atual de desenvolvimento tecnológico são mecanismos não comparáveis com a situação em 1918, mas extremamente importantes para a compreensão dos efeitos macroeconômicos da Covid-19.

Em algum momento, no Brasil, deveremos iniciar o retorno gradual às atividades econômicas, baseados em evidências clínicas, estatísticas e científicas. No entanto, existem dois pontos importantes a se considerar: deveremos estar atentos ao fato de que eventual ressurgência no caso brasileiro ocorrerá durante o outono ou o inverno, estações críticas do ponto de vista do controle epidemiológico; e ter sempre presente os limites de nossa capacidade de absorver os enormes custos gerados pelo isolamento social.

Os resultados dessa complexa equação, de difícil solução, nos trarão a indicação do melhor caminho a seguir.

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