Especialistas em todo o mundo concordam que a amamentação tem uma influência significativa no desenvolvimento e na trajetória de vida das crianças.
O aleitamento materno, além de melhorar as taxas de sobrevivência infantil e proteger as mães de alguns tipos de câncer, tem sido associado ao aumento do QI (Quociente de Inteligência) e à redução da obesidade na vida adulta.
A amamentação também ajuda a aliviar a carga no sistema de saúde, na medida que pode reduzir a incidência de muitas doenças crônicas durante a infância.
Entretanto, nas cidades, e em alguns espaços específicos, não há locais confortáveis e convidativos para o aleitamento materno.
Se quisermos garantir a disseminação de seus efeitos positivos, é necessária a reflexão sobre as causas do desconforto causado em algumas pessoas pelo ato da amamentação nas áreas urbanas, para que, assim, seja possível garantir às mães locais adequados para a amamentação.
Pesquisadoras da La Trobe University, na Austrália, têm se dedicado ao estudo desse assunto, e apontam importantes recomendações para se atingir esses objetivos.
Os estudos demonstram que a ergonomia do conforto físico é muito bem compreendida, mas a do conforto emocional nem tanto, embora ela tenha uma influência significativa na amamentação.
Por exemplo, se uma mãe se sente insegura ou teme ser reprovada quando amamenta em público, é menos provável que ela o faça. No entanto, se ela sentir que é importante amamentar, isso pode ser o suficiente para superar essa desaprovação ou o desconforto emocional.
Os resultados das pesquisas indicaram que existe um ciclo virtuoso entre a estruturação de ambientes de alta qualidade, que apoiem a amamentação, e as atitudes das pessoas.
Muitas mulheres acham reconfortante ver outras mulheres amamentando em um espaço público adequado, oferecendo-lhes evidências de que elas também podem fazê-lo. Para as mulheres, um ambiente confortável, agradável e seguro, em um espaço compartilhado, pode ser o principal requisito para amamentar.
Segundo as pesquisadoras, criar a sensação de que nossas cidades são amigáveis à amamentação requer cultivar mudanças nos corações e nas mentes das pessoas, na mesma medida em que ocorrem as mudanças efetivas nos espaços físicos.
Aliás, essas mudanças vão muito além de apenas melhorar o projeto de salas de amamentação, que oferecem uma opção para as mulheres que buscam privacidade, mas mantêm a amamentação como uma atividade oculta, que deve ser escondida.
Isso pode deixar transparecer uma percepção hostil no que diz respeito à amamentação em áreas públicas, exigindo que as mães restrinjam suas vidas aos lugares onde esses ambientes podem ser facilmente encontrados.
Da mesma forma, não é prático aumentar muito o número de locais exclusivamente dedicados à amamentação. Isso exigiria muito espaço e o investimento de recursos, que poderiam ser utilizados para outras finalidades, até mesmo na área da saúde.
Portanto, cidades amigáveis devem ser lugares onde não só existam áreas dedicadas à amamentação, mas espaços públicos que, além de permitir às mulheres participarem e desfrutarem a vida comunitária, possibilitem que locais de trabalho, parques, shopping centers e prédios públicos sejam utilizados de forma confortável e discreta para a amamentação.
Assim, se tornarmos os locais acolhedores e mais confortáveis fisicamente, essas mães “pioneiras” podem ajudar a mudar atitudes e encorajar outras mulheres a escolherem também esses lugares para amamentar seus filhos.
Investimentos em planejamento e implantação física de locais acolhedores para o aleitamento materno em espaços públicos, estrategicamente distribuídos, além de garantir a disseminação dos benefícios da amamentação para a população, provavelmente, fomentarão a visão geral de que essa atitude é acolhida por toda a sociedade.
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