Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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A relação entre as fontes sonoras e as formas de uso do solo

Abordagem requer modelos teóricos e novas ferramentas de planejamento urbano

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A abordagem da paisagem sonora –diferentes sons que compõem um ambiente– no planejamento urbano considera o som como um elemento a ser utilizado na avaliação do impacto ambiental, com o objetivo principal de reduzir a exposição humana a altos níveis de pressão sonora. Essa abordagem requer novos modelos teóricos e novas ferramentas de planejamento urbano, que considerem essas variáveis no processo.

Como caracterizar as ambiências urbanas com respeito às impressões sonoras a que estão submetidas? Que atributos ou particularidades dessas ambiências têm relação direta ou indireta com essa exposição sonora?

Trânsito na marginal Tietê, uma das vias mais barulhentas de São Paulo
Trânsito na marginal Tietê, uma das vias mais barulhentas de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

Para responder essas perguntas, pesquisadores da Universidade de Groningen, na Holanda, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e da London University College, no Reino Unido, desenvolveram pesquisa na cidade de Sheffield, na Inglaterra, utilizando gravações binaurais – um método de gravação de som que usa dois microfones, que ficam dispostos com a intenção de criar um som estéreo 3D, ou seja , produzir, para o ouvinte, a sensação de realmente estar no ambiente – e vídeos 360°.

Nesse experimento de escuta e captação de imagens foi avaliada a dominância das fontes sonoras em diferentes variáveis de uso do solo, e em atividades sociais e recreativas. A pesquisa foi focada nas possíveis relações existentes entre atividades urbanas, atributos de uso do solo e fontes sonoras percebidas nos ambientes.

A região escolhida para a pesquisa inclui diferentes tipos de uso do solo, como o antigo centro comercial da cidade, pequenas indústrias, áreas residenciais e áreas verdes. Além disso, há uma pluralidade de tipos de infraestrutura, incluindo a estação ferroviária, linhas de ônibus e estradas. A área do estudo foi dividida em módulos e, no centro de cada um deles, foi efetuada a medição dos níveis de pressão sonora e gravações binaurais.

Voluntários foram expostos às gravações audiovisuais efetuadas, e suas impressões coletadas por meio de respostas a duas questões, que envolveram 26 variáveis.

Em primeiro lugar, os participantes avaliaram quão dominantes eram percebidas quatro fontes sonoras diferentes: sons naturais, sons de tráfego, sons de pessoas e sons de construção. Em segundo lugar, os participantes avaliaram até que ponto eram apropriadas, para o local, atividades sociais e recreativas e diferentes tipos de uso do solo apresentados.

Os resultados mostram que a combinação de uso do solo e de fontes sonoras pode ser descrita em termos de dois componentes principais. Um, que representa ambientes naturais versus ambientes artificiais, e outro que representa a presença de vozes humanas.

Especificamente, a interpretação do primeiro componente sugere que um ambiente é percebido como "natural" e apropriado para atividades recreativas quando a alocação do uso do solo nessas áreas fornece alta proporção de espaços verdes e maior distância de sons, como o de estradas. Na avaliação do segundo componente, locais com prevalência de sons humanos foram considerados como paisagem sonora ideal.

A conclusão do estudo indica que houve uma relação significativa entre a forma urbana, a distribuição de atividades e a percepção dos sons no ambiente urbano, afetando, dessa forma, a paisagem sonora.

Esses resultados preliminares indicam que vale a pena aprofundar o estudo dessas relações –também em outras cidades– com o objetivo de desenvolver um modelo geral, que possa orientar urbanistas e projetistas na criação de ambientes de alta qualidade acústica. Isso inclui diversidade de paisagens sonoras, como áreas centrais vibrantes, espaços verdes tranquilos e áreas com uma atmosfera social relaxante, em oposição a artérias de tráfego congestionado.

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