Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Soluções baseadas na natureza podem reduzir exposição a riscos climáticos

Custos econômicos e sociais dos riscos de enchentes e secas são altos e crescentes.

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É inconteste o avanço da sociedade ao longo dos tempos. Contudo, segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio programa de pesquisas ambientais lançado pela ONU (Organização das Nações Unidas), e cujos primeiros resultados foram divulgados em 2005, os últimos 60 anos representam o período em que os humanos impuseram à natureza as mudanças mais drásticas. Foi pensando na forma de conter as interferências humanas sobre o meio ambiente que a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), a maior organização internacional dedicada à conservação dos recursos naturais, cunhou a expressão "Soluções Baseadas na Natureza" (SbN).

Recente relatório publicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) trata, entre outras questões, das SbN para adaptação a riscos climáticos relacionados com a água. Os custos econômicos e sociais dos riscos das enchentes e das secas são altos e crescentes.

Nos últimos 10 anos, os riscos associados a condições meteorológicas extremas têm estado rotineiramente entre os cinco principais, quando se considera severidade e impacto na economia. Segundo o Fórum Econômico Mundial, somente em 2018, as enchentes foram responsáveis por perdas globais acima de US$ 37 bilhões, enquanto as secas, por perdas de aproximadamente US$ 28 bilhões.

Segundo o relatório, existem evidências claras dos benefícios econômicos da manutenção de habitat. Exemplificando: no nordeste do Estados Unidos, estima-se que as áreas úmidas costeiras protegidas ajudaram a prevenir prejuízos de mais de US$ 600 milhões nas propriedades durante a passagem do furacão Sandy. Globalmente, estima-se que, sem os manguezais, mais de 15 milhões de pessoas sofreriam com inundações anualmente.

Pesquisas mostram que as SbN podem ser mais econômicas que as alternativas convencionais. Em 52 zonas de projetos de defesa costeira nos Estados Unidos, por exemplo, o custo das SbN foi estimado em 2 a 5 vezes menor que o da infraestrutura convencional, e a maioria mais eficaz na defesa contra ondas de até meio metro de altura e em maiores profundidades de água.

Além de reduzir perdas e danos, os múltiplos cobenefícios do SbN podem ter um valor econômico significativo. Na Europa, verificou-se que os rios que tiveram seus cursos restaurados, além de aumentar a proteção contra inundações, influenciaram no aumento da produção agrícola e no sequestro de carbono, produzindo ainda um benefício econômico líquido, estimado para a sociedade sobre rios não restaurados, em 1.400 euros por hectare por ano.

Por fim, investimentos em SbN podem estimular a economia gerando empregos, da mesma forma que os investimentos em infraestrutura convencional. O American Recovery, programa que financiou a restauração de habitats costeiros, gerou 17 empregos por milhão de dólares investido. Na União Europeia, estima-se que a restauração de somente 15% dos ecossistemas degradados, de acordo com a Meta 2 da Estratégia de Biodiversidade da UE 2020, poderia gerar até 70 mil empregos.

Contudo, existem problemas para a implementação das SbN. Não existe uma métrica uniforme sobre o entendimento das soluções baseadas na natureza. Em sua maioria, essas soluções são aplicadas localmente, com difícil rastreamento. Entretanto, nos últimos anos, várias iniciativas tentaram mapear projetos-piloto de SbN para fornecer aos profissionais evidências de como e em qual escala se pode, efetivamente, abordar diferentes desafios sociais relacionados com alterações climáticas.

Parece claro, contudo, que enquanto os países enfatizam os crescentes benefícios das SbN, a implementação não é acompanhada por essa ambição. O relatório da OCDE propõe que sejam avaliadas políticas para ajudar a identificar as boas práticas, bem como os gargalos persistentes no uso de SbN na redução da exposição a riscos climáticos, o que, em última análise, pode promover e facilitar a implementação dessas soluções.

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