A conceituação de vitalidade urbana pode ter vários contornos. A definição proposta por Jane Jacobs, importante ativista norte-americana, a relaciona à intensidade da concentração das pessoas, mas podemos considerá-la como sendo a energia que flui dentro da cidade, por meio de uma densa e socialmente heterogênea população de pedestres que circulam por seus espaços.
Entretanto, a intensidade da concentração de pessoas tem tido relevos dos mais diferentes nas últimas décadas. A rápida expansão da população e a grave escassez da capacidade de suporte da infraestrutura urbana trouxeram congestionamento de tráfego, poluição ambiental, desordem, baixa eficiência de operação, exposição a pandemias e outros problemas que restringem seriamente o desenvolvimento sustentável das cidades.
Portanto, a análise dos padrões de vitalidade urbana, não só em relação às características espaço-temporais, mas também àquelas relacionadas com a coesão social e o bem-estar da população, é necessária para aliviar os problemas ligados à intensa expansão urbana e para potencializar seus efeitos positivos no desenvolvimento e funcionamento das cidades.
O avanço da tecnologia e o surgimento do Big Data nos traz a oportunidade de estudar o arranjo dinâmico da população, e possibilita a medição quantitativa dos padrões de distribuição espacial e temporal da vitalidade urbana.
Pesquisadores chineses, utilizando informações de telefones celulares na cidade de Nanjing, na China, dividiram a cidade em várias áreas e analisaram os padrões de vitalidade em cada uma delas, de forma combinada com as características de uso do solo e pontos de interesse da cidade. Foram avaliados os padrões de distribuição espacial e temporal de vitalidade nas diferentes áreas, e sua correlação com o uso do solo. Restou comprovado que a densidade nos pontos de interesse da cidade, as características múltiplas de uso do solo, e atributos da infraestrutura possuem fortes correlações com a vitalidade urbana. O nível de adensamento populacional funciona como importante combustível para criatividade e produtividade, com consequências positivas na vitalidade.
A intensidade de uso do espaço é outro elemento relevante. A qualidade do ambiente urbano influencia o número de atividades realizadas, determinando a conexão entre a intensidade do uso do solo e as características físicas do espaço.
A relação quantitativa e qualitativa entre espaços públicos e privados também é determinante nos níveis de vitalidade de uma determinada região. Em muitos casos, áreas privadas de uso público podem melhorar essa relação e impulsionar a vitalidade local.
Vários estudos têm demonstrado que o ambiente construído desempenha papel fundamental no desenvolvimento e na manutenção de laços sociais entre os moradores de uma cidade. Alguns fatores que determinam o nível de uso do espaço público, como presença de amenidades locais; elementos com água, como fontes, arte pública e mobiliário público; presença de grama para sentar; e ações que melhorem o microclima, também podem ampliar a vitalidade urbana e o senso de comunidade em nível local.
A existência das cidades adquire sentido pela existência dos cidadãos, que a revigoram por meio de seu comportamento e por sua interação com os espaços urbanos. Quanto mais as pessoas estiverem ativamente presentes nas ruas, e maior for a participação de indivíduos na vida urbana –com suas diversidades como idade, sexo, origem étnica, classe econômica, status social etc.–, mais a cidade se torna um ambiente seguro e vívido.
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