Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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A percepção dos pedestres expostos a áreas verdes

Plataforma do MIT mede cobertura das copas das árvores em cidades ao redor do mundo

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Embora haja consenso geral sobre a importância das áreas verdes nas cidades, não é uniforme o entendimento de como elas devem ser medidas, e como devem ser avaliados os seus efeitos sobre os pedestres.

A Treepedia é uma plataforma interativa lançada pelo MIT Sensible Lab, vinculado ao Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, que mede a cobertura das copas das árvores em cidades ao redor do globo. No entanto, ao contrário de outros métodos baseados em satélites que dependem de visualizações aéreas para avaliar a extensão da vegetação, a Treepedia utiliza um algoritmo que pode digitalizar imagens do Google Street View e determinar qual porcentagem delas é composta por áreas verdes. O resultado final da varredura bloco a bloco é a determinação do chamado Índice de Visão Verde (IVV), que "representa a percepção humana do meio ambiente ao nível da rua". O IVV determina, portanto, o percentual da área de visão das pessoas que, ao caminhar, enxergam áreas verdes.

Essa plataforma é capaz de oferecer um padrão universal, pelo qual os esforços para tornar as ruas da cidade mais verdes –parques e outras áreas naturais não fazem parte da avaliação– podem ser medidos. O uso de um algoritmo para coletar esses tipos de dados certamente abre possibilidades interessantes para futuras pesquisas. Das cidades analisadas até agora, Singapura, no sudeste Asiático, é, de longe, a cidade onde a visão de áreas verdes nas ruas é maior, obtendo uma pontuação no IVV de 29,3%. Em seguida vem Sydney, na Austrália, e Vancouver, no Canadá, ambas com IVV 25,9%. Enquanto Buenos Aires apresentou um índice de 14,5%, na cidade de São Paulo o IVV medido foi de 11,7%.

À medida que caminhar pela cidade passa a ser um modelo de deslocamento cada vez mais importante no contexto da mobilidade urbana, mais estudos são realizados e revelam uma associação clara entre as características dos ambientes e sua relação com o comportamento durante a caminhada. Dentre as características dos ambientes, a vegetação urbana é reconhecida como fator importante no desempenho da atividade física e na saúde das pessoas.

Pesquisadores do departamento de planejamento urbano da Hanyang University, Science & Technology em Seul, na Coréia do Sul, analisaram os efeitos do IVV das ruas de um bairro durante o período de caminhada, dividindo-os em dois grupos: deslocamento para atividades diárias como estudo, trabalho ou compras; e caminhadas vinculadas ao lazer, como passeio e atividades físicas.

Os resultados deste estudo mostram diferenças entre as variáveis convencionais para medir o IVV e a vegetação, em função de sua disposição nos logradouros públicos. O IVV foi mais intimamente associado ao tempo de caminhada do que as variáveis tradicionais de vegetação. Além disso, o estudo descobriu que os residentes de baixa renda geralmente viviam em vizinhanças de baixo IVV, e o tempo destinado à caminhada mostrou-se sensível à exposição às áreas verdes. Outros resultados indicam ainda que, ao analisar a relação entre vegetação urbana e comportamento durante a caminhada, é necessário examinar a relação com outros fatores, como tipos de uso do solo ao longo do trajeto, e investigar a importância da vegetação urbana ao nível dos olhos.

Resultados de estudo semelhante realizado em Hong Kong sugerem que o IVV pode estar significativamente relacionado a maiores chances de caminhar por um tempo maior. Portanto, o IVV deve efetivamente estar relacionado com a exposição diária dos residentes à vegetação urbana que, por sua vez, está associada ao seu comportamento durante a caminhada.

O aprofundamento dos estudos relacionados aos efeitos nos pedestres da exposição a áreas verdes tem vinculações implícitas com o planejamento. Dessa forma, no desenho da cidade deve ser considerada não apenas a existência de vegetação em termos de densidade ou tamanho, mas também a visibilidade das áreas verdes na perspectiva do pedestre enquanto ele se move pela cidade.

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