Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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E se retirássemos os automóveis das ruas?

Cidades europeias, como Madri e Oslo, anunciaram planos para extinguirem carros particulares

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Será que conseguimos imaginar como seria a vida nas cidades sem automóveis trafegando nas ruas?

Nos últimos cem anos, o carro passou a dominar a paisagem urbana. As ruas foram alargadas em muitas cidades para acomodar mais automóveis, e uma grande quantidade de espaço é reservada para estacioná-los.

Os veículos particulares revolucionaram a mobilidade, mas com eles vieram muitos problemas, desde a poluição do ar até os acidentes de trânsito.

Trânsito na avenida Paulista
Trânsito na avenida Paulista, em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Hoje, um número pequeno —mas crescente— de cidades está tentando excluir o carro da paisagem urbana. Essas cidades caminham na direção de criar mudanças drásticas em sua matriz de mobilidade, distanciando-se dos deslocamentos por meio de automóveis e apostando em modelos mais sustentáveis e voltados para o cidadão.

Hamburgo, Oslo, Helsinque e Madrid anunciaram recentemente seus planos de se tornarem, parcialmente, cidades sem carros particulares. Outras cidades, como Paris, Milão, Masdar, Dublin, Bruxelas e Copenhague, têm medidas que visam a redução do tráfego motorizado, incluindo a implementação de dias sem carros, investindo em infraestrutura para ciclistas e pedestres, restringindo vagas de estacionamento em determinados destinos e aumentando, de forma considerável, a oferta de transporte público.

Tais planos e medidas são particularmente implementados com o objetivo declarado de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e beneficiar a saúde da população.

Essa diminuição do número de automóveis nas ruas implica menor necessidade de vagas para estacionamento e de espaços nas vias públicas, resultando em calçadas mais largas e na possibilidade da instalação de ciclovias, oferecendo oportunidades para que se ampliem os níveis de mobilidade ativa.

Da mesma forma, podem ser aumentados os espaços para áreas verdes e de lazer, resultando em mais alternativas para interações sociais nos espaços públicos. Além disso, tais iniciativas, se realizadas em escala suficientemente grande, podem originar reduções significativas nas emissões de CO2, nos níveis de ruído e na temperatura ambiente. Segundo especialistas, levarão também à redução na mortalidade e morbidade prematuras.

Apesar de preocupações acerca da proibição da circulação de carros manter potenciais consumidores em casa, em Oslo, na Noruega, essa situação tem provado ser exatamente inversa. Lá, os negócios aumentaram consideravelmente em áreas recentemente alocadas a pedestres e ciclistas, com a eliminação de espaços para automóveis.

Vista do alto de Oslo, com um rio, no por do sol
Oslo, na Noruega - Cornelius Poppe/Reuters

Sem dúvida, uma cidade sem carros parece uma boa ideia e deve ser perseguida, principalmente em função dos impactos na redução da poluição e na melhoria da saúde pública. Mas esse processo deve ser feito com o necessário equilíbrio.

A retirada dos automóveis das ruas deve ser implantada de forma concomitante com o fornecimento de alternativas factíveis de mobilidade. Mesmo na Europa, onde existe uma rede de transporte público relativamente eficiente, os trajetos e o estilo de vida de muitas pessoas simplesmente não seriam possíveis sem o uso do automóvel particular.

Diferentes cidades terão diferentes maneiras de planejar e implementar projetos que diminuam a presença dos carros nas ruas.

O planejamento de cidades sem automóveis exige compromisso político de longo prazo e altos níveis de aceitação pública. A sociedade deve compreender plenamente até que ponto os benefícios trazidos por uma cidade sem carros podem superar eventuais perdas derivadas desse processo.

Como resultado, em muitos casos, essa implantação poderá ser parcial, tanto do ponto de vista espaço-temporal quanto qualitativo, e voltada à busca pelo almejado equilíbrio entre um modelo eficiente de mobilidade e um meio ambiente saudável.

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