Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mercado imobiliário

Aceitação e resistência ao adensamento

Grande parte dos moradores se sente negativamente afetada quando os projetos são em seu bairro

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Em razão dos evidentes benefícios do adensamento, planejadores urbanos em todo o mundo começaram a formular políticas que visam melhorar a maneira de usar o solo urbano de forma mais intensa. Enquanto as pessoas tendem a aceitar o adensamento como um importante paradigma urbanístico, projetos específicos que adotam esses modelos, frequentemente, geram resistência dos moradores locais.

O adensamento de uma região, invariavelmente, vem acompanhado de mudanças em sua vizinhança. Embora muitas vezes exista a percepção que, com mais pessoas morando na mesma região, o uso das amenidades existentes pode ficar comprometido, esses projetos têm a oportunidade de promover mudanças positivas, que podem resultar em benefícios diretos à região e aos seus moradores.

Construções na região da rua dos Pinheiros, no bairro Pinheiros - Eduardo Anizelli 25.out.21/Folhapress

Melhorias estéticas da área, infraestrutura atualizada e novos espaços podem produzir efeitos positivos, com repercussão na forma como os moradores percebem seu bairro. Por outro lado, quando o adensamento envolve também habitações populares, por exemplo, não raro, os moradores locais expressam suas preocupações – embora nem sempre abertamente – sobre o afluxo de pessoas de baixa renda, aumento da criminalidade e eventual diminuição do valor das propriedades. Na verdade, há de se buscar o equilíbrio entre possíveis efeitos positivos e negativos.

Pesquisadores do grupo de políticas urbanas e desenvolvimento espacial do Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça, desenvolveram estudo para compreender os mecanismos que orientam a rejeição ou a aceitação de modelos de adensamento por moradores de uma determinada região.

Os moradores pesquisados foram divididos em quatro grupos ideológicos: antidesenvolvimentista; NIMBY (Not In My Back Yard), que são contrários ao adensamento em seu bairro; aceitação geral; e OIMBY– (Only In My Back Yard), os favoráveis ao adensamento em seu bairro.

Os resultados do estudo revelam o dualismo frequentemente descrito entre aceitação e rejeição nos locais de adensamento. A maior parte dos moradores apoia o adensamento de forma geral. Mas os moradores classificados como NIMBY rejeitam tais projetos dentro de seu próprio bairro. Outra parcela significativa de moradores se opõe à densificação devido a resistência geral ao desenvolvimento.

Dessa forma, embora o adensamento como paradigma geral tende a receber um sólido apoio, grande parte dos moradores se sente negativamente afetada quando os projetos de adensamento ocorrem dentro de seu próprio bairro.

A categorização dos pesquisados em quatro níveis ilustra porque os projetos de adensamento muitas vezes não se sustentam. Na verdade, esses projetos não colidem com a falta de aceitação do público em geral e se chocam com a oposição de moradores que são diretamente afetados. Essa distinção permite elaborar o pensamento sobre as diferentes formas de avaliar os projetos de adensamento e confere nuance adicional para discutir o comportamento NIMBY e como ele afeta as motivações para rejeitar ou aceitar os projetos de adensamento. Os resultados do estudo revelam uma grande lacuna entre a aceitação geral do adensamento e a aceitação local desses projetos.

Estas conclusões ajudam a explicar melhor o envolvimento dos cidadãos com a questão, e fornecem várias implicações práticas para o planejamento. Os autores do estudo destacam que as estratégias de adensamento são dependentes do contexto. Portanto, os planejadores devem, primeiro, aprender sobre as situações concretas e os fatores contextuais que importam para a comunidade na qual o projeto de adensamento é proposto, e devem considerar como as questões vitais para a vida do bairro podem ser aprimoradas ou protegidas, antecipando, assim, os potenciais efeitos locais de diferentes propostas, sejam eles positivos ou vinculados a percepções negativas.

Há que se reconhecer o direito democrático de resistir ao adensamento; mas é preciso compreender que a utilização desse modelo em grandes centros é inevitável e passa por um desafio de implementação, que inclui a compreensão clara de seus benefícios em situações e regiões específicas.

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