Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mobilidade transporte público

Como implementar uma cidade de 15 minutos?

Se deslocar pela cidade no menor tempo possível, a pé ou de bicicleta, é o sonho de qualquer cidadão

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A "cidade de 15 minutos" pode ser definida como uma estruturação urbana ideal, na qual a maioria das necessidades cotidianas das pessoas está localizada geograficamente próxima dos locais onde moram e a uma distância de tempo de viagem de 15 minutos, a pé ou de bicicleta.

Em menos de dois anos, esse conceito passou de uma estrutura de planejamento urbano relativamente obscura para um slogan generalizado entre os amantes das cidades, acadêmicos e planejadores.

Essa concepção, embora superexposta, ainda não é plenamente compreendida, e deve ser utilizada como visão para criar um ambiente que possibilite aos moradores de uma cidade reestruturar seu dia a dia, objetivando uma melhor qualidade de vida.

pedestres andam no meio da rua, que tem carros estacionados à beira das calçadas
Rua Santa Ifigênia, na região central de São Paulo. - Rubens Cavallari/Folhapress

Hoje, as cidades são muito desiguais, fragmentadas e segregadas. Por distorções do próprio planejamento urbano, expulsamos muita gente para as franjas das cidades, locais onde os preços dos terrenos e, portanto, dos imóveis, são mais baixos.

Esse modelo está vinculado a longas viagens para desempenho das atividades diárias e à baixa qualidade de vida, elevando, na verdade, o custo dos imóveis, em função dos gastos públicos decorrentes. Com a cidade de 15 minutos, podemos reverter essa situação.

A cidade de 15 minutos reduz desigualdades e melhora a qualidade de vida em bairros carentes, por meio da criação de espaços, por exemplo, para coworking e zonas verdes com parques e praças, gerando atratividade para a instalação de empresas, atividades culturais, atividades esportivas, e construindo ciclovias e calçadas de qualidade. Em um território policêntrico, podemos regenerar a coesão urbana com múltiplos serviços e eventualmente reduzir a segregação.

Mas, afinal, como implementar uma cidade de 15 minutos? Existem pelo menos quatro conceitos que devem ser mais bem compreendidos e adequadamente introduzidos no tecido urbano.

O primeiro deles é a criação de centralidades eficientes, principalmente nos bairros desprovidos de infraestrutura. Isso significa colocar à disposição serviços e comodidades essenciais para que os moradores possam caminhar ou pedalar facilmente. Ou seja, educação e saúde em escala comunitária, varejo essencial, parques para recreação e espaços para trabalho, entre outros.

Equidade e inclusão são centrais. Estratégias para uma cidade de 15 minutos devem enfatizar a igualdade de acesso a serviços, amenidades e espaços verdes. Isso significa projetar abordagens para reduzir ativamente –e não agravar– divisões e desigualdades sociais.

Parte dessa solução repousa em estratégias de engajamento, envolvendo uma mistura diversificada de moradores e políticas para evitar deslocamentos, ou seja, garantir a disponibilidade de moradias acessíveis do ponto de vista econômico em locais mais desenvolvidos em termos de infraestrutura urbana.

Outro aspecto importante é estruturar as vias públicas e a mobilidade, centrando-as nas pessoas. Uma cidade de 15 minutos deve replanejar suas ruas e seus espaços públicos para priorizar as pessoas que não dirigem, construindo bairros mais vibrantes, onde caminhar e andar de bicicleta sejam as principais formas de se locomover.

Isso significa recuperar o espaço dominado pelos automóveis para usos mais produtivos e sociais, além de revitalizar ou complementar a infraestrutura de caminhada e ciclismo para atender às viagens diárias das pessoas de todas as idades e capacidades de forma mais adequada.

Finalmente, é essencial criar lugares conectados. Uma cidade de 15 minutos deve oferecer comodidade e qualidade de vida, mas não isolamento. A conectividade física e digital deve estar no centro de qualquer estratégia para implementação desse modelo, e é especialmente crítica para cidades extensas e dependentes de automóveis.

Dessa forma, é necessário melhorar a qualidade e a equidade dos sistemas de transporte público, digitalizar os serviços da cidade, e desenvolver infraestrutura digital para garantir que todos tenham acesso à internet.

Seguramente, a implementação de uma cidade de 15 minutos não se esgota nas abordagens aqui propostas e deve estar vinculada também a conceitos como o desenvolvimento orientado pelo transporte.

Esse modelo promove crescimento urbano mais denso e de uso misto em torno dos serviços de transporte público, permitindo uma mudança em larga escala da dependência de automóveis.

Mesmo em núcleos urbanos de 15 minutos bem-sucedidos, conexões de transporte público rápidas, frequentes e confiáveis para outros bairros e centros de trabalho continuam sendo importantes para permitir o acesso sem carro a empregos, educação, entretenimento e muito mais em outras partes da cidade.

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