Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Trump dinamita o espírito do G20

O comunicado final da cúpula do G20, encerrada neste sábado (8) em Hamburgo, deixa claro que Donald Trump dinamitou o espírito com que o grupo foi criado.

Qual é (ou era) esse espírito? "Nós podemos conseguir mais juntos do que agindo isoladamente", como reafirmou o documento final, logo na abertura.

Pena que o G20 já não atuará em conjunto no mais complexo desafio para o futuro da humanidade, que é a mudança climática. O comunicado também informa, como de resto já se sabia, que os Estados Unidos decidiram retirar-se do Acordo de Paris, o mais abrangente esforço conjunto para evitar uma catástrofe ambiental.

É claro que o acordo continua em vigor, até por ter sido reafirmado e declarado "irreversível" pelos demais países do G20. Mas falta-lhe a perna essencial do país mais poderoso do mundo e o segundo maior poluidor, atrás apenas da China.

Falta-lhe também a contribuição financeira americana para o fundo destinado a permitir que os países mais pobres arquem com os custos de tornar mais limpas as suas atividades econômicas.

Quebrar o espírito do G20 não é algo trivial, por mais que se possa criticar o grupo por ser lento ou inativo em questões como a reforma do sistema financeiro ou as migrações em massa.

O fato é que foi o agir juntos de seu espírito original que permitiu enfrentar com razoável êxito a grande crise global de 2008/09. Não se evitou a recessão, é verdade, mas evitou-se, sim, a depressão, que seria infinitamente pior.

Os Estados Unidos, sob as presidências George Walker Bush e Barack Obama, foram essenciais para alcançar a coordenação global. Agora que Donald Trump a dinamita, o G20 corre o risco de se transformar em GZero, como dizem alguns especialistas, porque não há, ainda, nenhum país em condições de suprir a liderança de que Washington se retira.

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