É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Ainda há muito mistério em torno do assassinato de Kennedy 54 anos depois
Associated Press-22.out.1962 | ||
Morte de ex-presidente é o quarto evento mais importante para americanos, segundo pesquisa |
Considero-me o inimigo público número 1 das teorias conspiratórias. Tanto que penso sempre em criar o site www.odeioteoriasdaconspiração.com.br. Mas sou obrigado a confessar que o assassinato de John Kennedy abala minha convicção.
Abala, a rigor, desde o momento em que a notícia me paralisou: era um principiante na Redação de São Paulo do matutino carioca "Correio da Manhã", ainda na faculdade, quando a notícia tilintou no telex, essa versão atualizada do telégrafo, hoje desaparecida.
Só podia ser uma conspiração.
Nem toda a exaustiva investigação que se seguiu –e concluiu que fora obra de um atirador isolado, Lee Harvey Oswald– bastou para dissolver desconfianças, minhas e de quase todo o mundo.
Surge agora, em meio aos papeis liberados pelo governo americano, mais um mistério em torno do assassinato: um obscuro jornal britânico, o "Cambridge News", de alcance apenas local, recebeu um telefonema no qual se solicitava ao repórter que atendeu o chamado que contatasse a embaixada americana em Londres porque algo grande ocorreria nos EUA.
Detalhe fundamental: o telefonema foi dado meros 25 minutos antes que o presidente Kennedy fosse assassinado em Dallas.
Não se trata de uma fofoca local: o telefonema foi relatado pelo MI5 (o serviço secreto britânico) ao então vice-diretor do FBI, James Angleton, e por este foi transmitido ao chefe, o lendário J. Edgar Hoover.
A atual equipe do "Cambridge News" não sabe quem foi o repórter que recebeu o telefonema nem muito menos, claro, quem o chamou.
É esquisito que um jornalzinho britânico sem importância, a não ser local, receba um aviso desse teor, o que leva naturalmente a não acreditar que havia, no Reino Unido, um conspirador que sabia que "algo grande" estava para ocorrer muito longe dali.
De fato, é esquisito, mas por que, então, o FBI manteria o registro do telefonema em seus arquivos?
Uma possível resposta está na importância do evento: nos arquivos do badalado Pew Research Center, descobre-se que o assassinato de Kennedy é o quarto evento mais importante do período de vida dos entrevistados, com 21% das menções, à frente até da Guerra do Vietnã.
Perde para os atentados de 11 de setembro, a eleição de Barack Obama e a revolução tecnológica –todos acontecimentos muitíssimo mais recentes que a morte de Kennedy, velha de 54 anos.
Uma segunda possível resposta, esta do agrado dos que gostam de teorias da conspiração, vem do autor do livro com o significativo título de "JFK, Caso Aberto", Phil Shenon: "A CIA e o FBI sabem mais [do que repassaram para a Comissão que investigou o crime] e, se tivessem agido de acordo com a informação que tinham, provavelmente Oswald teria sido brecado antes da chegada de Kennedy a Dallas".
Por fim, há o fato de que 74% dos americanos acham Kennedy um notável presidente, primeiro colocado entre os 11 mandatários recentes (Trump não entrou na pesquisa).
Pena que não dá para imaginar o que seriam os Estados Unidos e o mundo se, de fato, seu matador tivesse sido parado em tempo.
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