É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Sabe a última do Maduro? Calote
Carlos Garcia Rawlins - 17.out.2017/Reuters | ||
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, dá entrevista no palácio Miraflores, em Caracas |
A sugestão do presidente da Argentina, Mauricio Macri, de que os EUA imponham um embargo total às importações de petróleo da Venezuela tem um claro pano de fundo: demonstra que fracassaram as sanções até agora aplicadas a Caracas.
Um fracasso duplo, aliás: não houve nem mesmo um tímido recuo do regime venezuelano na direção de padrões minimamente aceitáveis de democracia e, ainda por cima, houve um recrudescimento da violência institucional.
O mais recente exemplo é a iniciativa da Assembleia Constituinte que reprime qualquer tentativa de dissenso, batizada de Lei contra o Ódio, pela Convivência Pacífica e pela Tolerância. Título que George Orwell incorporaria à sua "novilíngua" pela poesia com que é tratada uma legislação de fazer inveja a "1984".
Constatado o fracasso das sanções até agora adotadas, é natural que Macri sugira a arma nuclear que seria o embargo das importações de petróleo, a linha da vida de uma economia que já respira por aparelhos.
Há dois problemas para que se adote essa medida: primeiro, dificilmente os EUA concordarão. As importações da Venezuela suprem 4% da demanda americana, e substituí-las, ainda mais às pressas, levará fatalmente a um aumento no preço interno dos combustíveis.
O presidente americano, Donald Trump, que tem escasso apreço pela democracia em qualquer parte do mundo, não vai correr o risco de desgaste adicional só para atingir um país pelo qual ele se lixa.
Segundo problema: embargos têm demonstrado pouca eficácia. Basta citar Cuba: 50 anos de embargo americano não provocaram arranhões na ditadura. Não provocaram, aliás, pelo mesmo motivo que tende a fazer fracassar a punição a Caracas: o apoio da então União Soviética à ilha caribenha e da Rússia à Venezuela.
Nesse último caso, há ainda o respaldo da China, que, nos últimos três anos, enterrou mais de US$ 60 bilhões na Venezuela, em troca de petróleo e de acesso preferencial a acordos de negócios.
O regime de Pequim não há de querer que um embargo como o proposto por Macri leve a Venezuela ao colapso, com o qual se derreteriam não só seus US$ 60 bilhões como parte da estratégia de ocupar espaços na América Latina.
A Venezuela parece, portanto, um caso perdido para a democracia e, o que é mais grave ainda para sua população, para a recuperação de um mínimo de eficiência na gestão, capaz de pelo menos atenuar a situação de Estado falido.
Aliás, o regime venezuelano está na iminência de dar um passo a mais rumo à falência: agendou para esta segunda-feira (13) reunião com os credores para discutir o refinanciamento de sua dívida -ou, em português claro, que tipo de calote pretende dar e quando.
O Brasil perde duplamente com esse eventual calote: a dívida soberana (do Estado venezuelano) com o país é de US$ 1 bilhão (R$ 3,25 bilhões). Além disso, lembra a revista "The Economist", o "default", se for amplo, geral e irrestrito, será o segundo maior da história (US$ 105 bilhões), atrás apenas dos US$ 216 bilhões da Grécia, em 2012.
Tende a haver respingos no vizinho do Sul.
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