Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Presente ruim, futuro pior para o Brasil

País está mal em outro ranking global, mas pode ficar ainda mais para trás, fora da nova economia

Colheitadeira retira produção de soja de fazenda em Gilbués, no Piauí
Colheitadeira retira produção de soja de fazenda em Gilbués, no Piauí - Roberto Samora - 20.mar.2017/Reuters

O Fórum Econômico Mundial divulgou nesta quarta (14) o seu Relatório sobre Crescimento e Desenvolvimento Inclusivo, referente a 2017.

Preciso dizer que, como sempre acontece quando sai um ranking internacional, o Brasil passa vergonha? É apenas o 37º colocado entre os 74 países listados.

Perde para todos os seus pares na América Latina, menos para o trio dos mais pobres (Bolívia, Guatemala e Honduras). Perde para o Paraguai (20º), aquele país vizinho que costuma ser alvo de tantas piadas dos brasileiros que não enxergam o próprio rabo.

Perde para Nicarágua (29º) e para El Salvador (35º), que há 30 e poucos anos estavam sendo devastados por uma guerra civil. Perde para a Colômbia (30º), que só no ano passado pôs fim a seu conflito interno com as guerrilhas.

É claro que o índice não mede apenas o Produto Interno Bruto (PIB), indicador em que o Brasil aparece costumeiramente entre os dez primeiros do mundo.

Trabalha com mudanças no padrão de vida dos habitantes —"um fenômeno multidimensional que engloba renda, oportunidade de emprego, segurança econômica e qualidade de vida".

Não preciso dizer que a formidável recessão iniciada em fins de 2014 provocou uma substancial piora em todas as dimensões citadas —que, de resto, nunca foram propriamente brilhantes no Brasil.

Não serve de consolo, pelo menos não para mim, o fato de que há um "malaise" global, assim exposto por Klaus Schwab, o acadêmico e empresário alemão que inventou o Fórum Econômico Mundial: "O mundo está em uma encruzilhada. Os sistemas sociais e políticos que tiraram milhões de pessoas da pobreza e que, por meio século, deram forma às nossas políticas nacionais e globais estão nos decepcionando".

Mais: "Os benefícios econômicos da genialidade e do esforço humano estão cada vez mais concentrados, a desigualdade está aumentando e as externalidades negativas da nossa economia global integrada estão prejudicando o ambiente e as populações vulneráveis".

Foi o que escreveu Schwab em "Aplicando a Quarta Revolução Industrial", lançado na ocasião da versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial, que termina nesta quinta (15) em São Paulo.

Se é assim no mundo, ao menos no mundo rico, muito pior é em um país como o Brasil, em que os benefícios da genialidade e do esforço sempre foram muito concentrados e em que a desigualdade nunca diminui.

O presente fornece, portanto, uma penca de motivos para esse difuso mas disseminado sentimento de mal-estar que acomete porção substancial dos brasileiros. O pior é que o futuro pode ser ainda pior, com perdão da redundância.

O Brasil parece estar fora do radar da tal quarta revolução industrial, esse fenômeno caracterizado pela emergência das biotecnologias, da robótica, da inteligência artificial, da computação quântica e por aí vai.

É verdade que o governo federal aproveitou o fórum da capital paulista para lançar a sua Agenda para a Indústria 4.0. Mas é pouco e tarde. Salvo focos isolados aqui e ali, a agenda do Brasil-2018 ainda é 2.0 ou menos. Significa que corremos sério risco de perder também o futuro.

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