O que mais assusta na decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo com o Irã não são apenas as sinistras consequências que um punhado de especialistas está antevendo.
O que assusta é ver como um cidadão absolutamente despreparado assume a Presidência da maior potência do planeta e faz o que lhe dá na cabeça, sem ligar a mínima para as informações disponíveis a respeito dos assuntos sobre os quais decide.
O risco maior, acho eu, não está na geopolítica ou na ciência econômica mas na psicopatologia do presidente.
Não é uma opinião isolada. Leia-se, por exemplo, o que escreveu Stephen M. Walt a respeito da decisão: "Como há muito se esperava, Donald Trump curvou-se a seu ego, à sua petulante inveja de Barack Obama, a seus doadores linha-dura, a seu novo conjunto de assessores falcões e, acima de tudo, à sua própria ignorância".
Walt não é um desses intelectuais livre atiradores, de alguma universidade secundária. Ele é professor de Relações Internacionais na mitológica Universidade Harvard.
Quando um intelectual com esse perfil chama o presidente de ignorante, fica evidente que há razões para o mundo todo se inquietar. Não só pelo dossiê iraniano, mas pelo fato de que as lamentáveis características que Walt listou em Trump tendem a fazer o ocupante da Casa Branca aplicar sua ignorância a qualquer outro tema.
O caso do acordo com o Irã é paradigmático da irracionalidade que determina as pulsões do ego de Trump. Qual é o objetivo de Trump e de praticamente toda a comunidade internacional? Impedir que o Irã alcance a bomba pelo menos no curto prazo.
Ora, até o acordo de 2015, todos os serviços de inteligência calculavam que, no ritmo em que então desenvolvia seu programa nuclear, Teerã levaria de três meses a um ano para chegar à bomba.
O acordo adicionou pelo menos dez anos à essa perspectiva. "É um ganho líquido em relação à ameaça nuclear posta pelo Irã", comenta Judah Grunstein, editor-chefe da World Politics Review.
Saindo do acordo, Trump joga esse ganho no lixo, a menos que os outros países participantes do pacto —os europeus, Rússia e China— consigam convencer os iranianos de que continuarão cumprindo o assinado em 2015, façam o que façam os Estados Unidos.
Como essa não é a hipótese mais provável, vale a perspectiva desenhada em Slate por Ilan Goldenberg (Centro para uma Nova Segurança Americana) e Ariane Tabatabai (Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais): os dois acreditam que não haverá uma imediata ofensiva iraniana para desenvolver suas atividades nucleares.
Mas esperam que o Irã retome incrementalmente suas atividades pré-acordo, o que, em algum momento, colocará americanos e aliados ante o dilema de "ou aceitar um Irã nuclearmente armado ou partir para uma ação militar para brecá-lo".
Quando um ego exacerbado, a inveja do antecessor, a petulância e a ignorância —como aponta Stephen Walt— determinam as decisões do presidente da maior potência do planeta é óbvio e inevitável que o mundo fique menos seguro.
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