Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Canadá quebra inércia sobre maconha

O país deu um passo ousado; quando o Brasil o fará?

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Mulher com bandeira do Canadá que substitui a folha de bordo pela folha da cânabis durante a Marcha da Maconha em Ottawa
Bandeira do Canadá que substitui a folha de bordo pela folha da cânabis durante a Marcha da Maconha em Ottawa - Chris Roussakis - 20.abr.2016/AFP

Há, é claro, inúmeras maneiras de olhar para o fato de que o Canadá tornou-se na terça-feira (19) o primeiro país do G20 (o clubão das maiores economias mundiais) a liberar o consumo de maconha para fins recreativos.

O mais impactante é exatamente esse pioneirismo entre os grandes. Mas, do ponto de vista do Brasil, prefiro a visão de Campbell Clark, colunista do Globe and Mail, para quem o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, decidiu “superar a inércia”. Alusão ao fato de que a liberação da maconha era promessa de campanha de Trudeau e que ele soube, uma vez eleito, enfrentar a hesitação do público e defender a proposta até vê-la aprovada no Parlamento.

Reforça o senador independente Tony Dean: “Acho que é um movimento valente por parte do governo, ao envolver-se com um tema difícil e controverso".

É a esse aspecto que alguém, no mundo político brasileiro, deveria prestar atenção. Mais que isso: deveria defender, inclusive na campanha eleitoral, ou um projeto igual ao canadense (ou ao uruguaio, mais antigo) ou ao menos uma política sobre drogas que não seja a guerra hoje predominante —e que está sendo claramente perdida.

“Sabemos que a proibição não funciona", completa o senador Dean.

É óbvio que há dúvidas, bastante razoáveis, sobre a liberação da maconha. Uma delas, talvez a mais poderosa: a liberação tende a aumentar o consumo, em especial entre os jovens? Talvez sim, talvez não.

Mas convenhamos que o Canadá, um dos países mais desenvolvidos e mais serenos do planeta, não pode ser tomado como um bando de idiotas capazes de aprovar uma legislação contraproducente.

Do lado positivo, tomo a avaliação de Steve Rolles, analista da Fundação para a Transformação da Política de Drogas do Reino Unido:

“É de sentido comum que, à medida que o mercado de drogas se move para a esfera legal de controle governamental, a proporção controlada pelo crime organizado diminuirá".

Rolles lembra que foi mais ou menos isso que aconteceu quando foi levantada a proibição de consumo do álcool.

Posto de outra forma: proibir o álcool não impedia o consumo, apenas abria espaço para o crime tomar conta do mercado.

Se, com a legalização da maconha, reduzir-se o espaço para o crime organizado, já será um ganho. Ainda mais que equivalerá, se de fato ocorrer, a uma redução da violência.

É como diz o analista Steve Rolles: “Todas as drogas implicam riscos, mas nenhuma droga, incluindo a maconha, se torna mais segura se deixada nas mãos do crime organizado ou de negociantes não regulamentados".

É puro sentido comum. Quando ele penetrará no Brasil a ponto de romper a inércia em torno do tema?

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