Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Eleições 2018

A direita veio para ficar e até ousa dizer seu nome

Partidos populistas crescem na Europa, nos EUA e no Brasil

Retomo o tema que Vinicius Mota pôs sabiamente na roda nesta segunda-feira (17), ao tratar do avanço do que ele chama de “direita popular".

Vinicius escreve —e acho que tem razão— que “a despeito do resultado do capitão [Jair Bolsonaro] no dia 7, a corrente de opinião que hoje o sustenta veio para ficar".

Pode-se lamentar que assim seja, mas ignorar essa possibilidade é tolice, ainda mais se se levar em conta o avanço na Europa de correntes similares. E também nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump, que muita gente compara a Bolsonaro. Não acho que sejam comparáveis mas que uma “direita popular” ganhou nos Estados Unidos, é óbvio.

Na Europa, reproduzo Andreas Johansson Heinö, pesquisador do Timbro, instituto de pesquisas sueco (liberal):

“Nunca antes partidos populistas tiveram apoio tão forte como hoje em toda a Europa. Na média, um quinto de todos os eleitores europeus votam no momento por um partido populista de esquerda ou de direita. (...) Nenhum país está indo claramente contra a corrente".

Por que acreditar, então, que, no Brasil, a corrente não possa avançar também, por mais que sempre caiba a ressalva de que há mais que o oceano Atlântico de diferença entre as condições do Brasil e da Europa (ou dos Estados Unidos, país que não entrou no estudo do Timbro).

Apesar da distância, o Brasil ainda faz parte do mundo, não sei por quanto tempo, e, por isso, acaba sendo banhado pelas correntes que circulam por aí.

Parêntesis: o pesquisador do Timbro menciona os populistas de esquerda, mas o avanço destes é pequeno, quando comparado com os de direita.

Escreve Heinö, a propósito: “O apoio a partidos de esquerda autoritários caiu durante a primeira metade dos anos 90 e depois continuou caindo até alcançar seu ponto mais baixo, 3,7%, em 2006".

Depois, o gráfico que acompanha a pesquisa mostra que começou a subir, mas em 2016 ficava abaixo de 7%.

Já os partidos de extrema direita duplicam essa cifra, nas eleições e/ou pesquisas mais recentes, em países relevantes da Europa. A saber: Alemanha (Alternativa para a Alemanha, 12,6% na eleição, 17% em pesquisas recentes); França (Reunião Nacional, 33,9% no segundo turno da presidencial, quando ainda se chamava Frente Nacional); Itália (Liga, 17,4%, suficiente para levá-la a fazer parte do governo); Áustria (Partido da Liberdade, 26%); Holanda (também Partido da Liberdade, 13%; Dinamarca (Partido Popular Dinamarquês, 21,1%, faz parte do governo); Finlândia (Verdadeiros Finlandeses, 17,7%); e Suécia, o caso mais recente (Democratas da Suécia, 17,6%).

O Timbro estudou 33 países, nos quais há 7.843 mandatos nos Parlamentos nacionais. Partidos que o instituto classifica como autoritários detêm 1.342 mandatos; partidos chamados de totalitários, outros 147 —o que corresponde a 17,1% e 1,9% respectivamente.

Conclusão inescapável: “Representantes de partidos iliberais e/ou antidemocráticos ficam com um quinto dos mandatos nos Parlamentos europeus".

É um dado absolutamente consistente com os 26% que Jair Bolsonaro consegue segundo o mais recente Datafolha.

Vale, pois, a frase com que Vinicius Mota fechou a sua coluna: “O país deveria aprender a lidar com ela” (a corrente de opinião que Bolsonaro representa).

A Europa tropeça nesse aprendizado, os Estados Unidos com Trump vivem de susto em susto. Como será em um Brasil em que, até faz pouco, ninguém tinha a coragem de se assumir de direita, menos ainda de extrema direita?

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