Steve Bannon, o troglodita que foi assessor de Donald Trump na campanha e nos primeiros passos do novo governo e continua sendo o guru da extrema direta, está tentando construir uma espécie de Internacional Iliberal (ou fascistoide).
Escolheu a Europa para seu ensaio. El País informa que Bannon elegeu um mosteiro de 1204, no alto de uma montanha 130 km a sudeste de Roma, para instalar "uma espécie de universidade do populismo" (boa parte da mídia, inclusive a brasileira, usa de uma maneira que me parece abusiva o rótulo de populistas para diferentes tipos de políticos; mas, como não há espaço para discutir melhor essa caracterização, passemos adiante).
A nova instalação, completa o jornal espanhol, "aportará todo o apoio ideológico e religioso a uma estratégia preparada durante anos para trasladar o trumpismo à Europa e convertê-lo na Internacional Populista" (ou liberal).
A escolha da Itália, agora, faz sentido: o homem da moda no país chama-se Matteo Salvini, é o líder da xenófoba Liga (antes Liga Norte) e acaba de chegar ao governo de braços dados com outro grupo populista, embora de outra pele, o Movimento 5 Estrelas.
Salvini é muito próximo de Bannon, assim como outra ultradireitista italiana, Giorgia Meloni, que comanda o grupo "Fratelli d'Italia" (é também o nome do hino da Itália).
Bannon é igualmente aliado a outros dirigentes europeus, também chamados de populistas e igualmente xenófobos, como os da Polônia, da Hungria e da República Tcheca.
Na Hungria, aliás, o primeiro-ministro Viktor Orbán está sob cerco do Parlamento Europeu, que acaba de pôr em marcha mecanismo para impor sanções ao país por colocar em perigo os valores fundamentais da União Europeia.
Bannon movimenta-se em um momento de ascensão da extrema direita na Europa, de que dão provas (as
mais recentes) a boa votação do Democratas Suecos e da Alternativa para a Alemanha, AfD.
É razoável supor que o guru extremista voltará suas vistas para o Brasil, se Jair Bolsonaro vencer. A descrição que fazem do candidato do PSL duas das mais lustrosas grifes da mídia europeia indica o quanto ele preocupa e o quanto se assemelha aos extremistas em ascensão na Europa.
The Economist puxou Bolsonaro para a capa desta semana, rotulando-o como "a mais recente ameaça na América Latina". No texto interno diz que Bolsonaro seria um presidente desastroso para o Brasil.
Em Le Monde, o principal título da capa na edição com data deste sábado (22) também trata do risco Bolsonaro e afirma: "O discurso racista, misógino e homofóbico desse nostálgico da ditadura seduz mais e mais eleitores, em um país em recessão e ameaçado de caos político".
A Economist chega a ironizar a velha crença de que Deus é brasileiro. Supõe que Ele entrou em férias. Afinal, "a economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está totalmente podre".
Para a internacional extremista em processo de montagem, essa situação não tem a menor importância. Importa ganhar mais um ponto de apoio, no país mais rico e populoso da América Latina, após ter conquistado o mais rico do mundo. Detalhe: todos os extremistas citados chegaram ao poder pelas urnas.
Clóvis Rossi
Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.
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Internacional extremista à vista
Por ora, foco é na Europa, mas Bolsonaro pode ajudar
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