Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

A obscenidade no Brasil que vai às urnas

Oxfam mostra que o país está a anos-luz da civilização

O Brasil que vai eleger novo presidente no dia 28 é uma tremenda vergonha, como se pode ver em dados recolhidos pela Oxfam, uma valiosa organização não-governamental.

Basta citá-los, com um ou outro comentário de contextualização:

1 -No ritmo em que o Brasil vem reduzindo a desigualdade, levará 75 anos para alcançar os níveis atuais de desigualdade do Reino Unido. E 60 anos para chegar ao ponto em que está hoje a Espanha nesse quesito.

Mesmo na comparação com os vizinhos, o país está 35 anos atrasado em relação ao Uruguai e um pouco menos (30 anos) na comparação com a Argentina.

Detalhe relevante: a Oxfam acredita que o Brasil reduziu a desigualdade nos últimos anos. É “fake news", conforme comprovou relatório do Banco de Dados da Renda e Riqueza Mundial, centro pilotado pelo economista francês Thomas Piketty.

Nele se vê que na primeira década deste século, os 10% mais ricos viram sua fatia da riqueza nacional subir de já opulentos 54% para 55%. Os 10% mais pobres também ganharam um ponto (de 11% para 12%), mas ainda assim tem-se a obscenidade de 10% levarem para casa cinco vezes mais riqueza que 50%.

2 - Diz a Oxfam que 28 milhões saíram da pobreza nos últimos 15 anos, “mas os ricos continuaram a ser beneficiar mais: entre 2001 e 2015, os 10% mais ricos representaram 61% do crescimento econômico".

Outro detalhe relevante: os anos 2001 e 2015 são, predominantemente, os anos do PT no governo. Logo, os ricos não deveriam ter razão para odiar o partido. Ganharam com ele.

3 - Quem ganha salário mínimo teria de trabalhar 19 anos para fazer a mesma quantidade de dinheiro que um brasileiro que fique entre os 10% mais ricos ganharia em apenas um mês.

4 - Os seis homens mais ricos do Brasil têm riqueza idêntica à dos 50% mais pobres (cerca de 100 milhões de pessoas). Os 5% mais ricos têm a mesma renda que os restantes 95%.

5 - Se os seis homens mais ricos do Brasil juntassem sua riqueza e gastassem R$ 1 milhões por dia, levariam 36 anos para empregá-la todinha. “Enquanto isso —diz a Oxfam —  16 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza".

Detalhe final: há várias maneiras de estabelecer uma linha de pobreza. A que me parece mais adequada é a que se pode comprovar no cadastro do Bolsa Família do Ministério do Desenvolvimento Social: ao terminar 2015, o último ano completo de governos do PT, havia 73 milhões de brasileiros vivendo com até meio salário mínimo. Em janeiro deste ano, já eram 77 milhões.

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