Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

O acordo de Paris vale uma missa

Lembrete a Bolsonaro: ele não afeta a Amazônia

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Área desmatada forma um quadrado em meio à floresta
Foto aérea mostra desmatamento no oeste da Amazônia brasileira - Carl de Souza - 22.set.17/AFP

Como em tantos outros assuntos, o presidente eleito Jair Bolsonaro ouviu o galo cantar, mas não soube aonde, no que se refere ao acordo do clima de Paris, assinado por 195 países em 2015.

Breve ajuda-memória: o acordo representa o compromisso de todo esse conjunto de nações de adotar uma economia de baixo carbono até o fim deste século. O objetivo central é o de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais e de garantir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C.

O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e apresentou o indicativo de redução de 43%, até 2030. Ambos são comparados aos níveis de 2005.

Voltemos a Bolsonaro: primeiro, ele anunciou que o Brasil se retiraria do acordo, seguindo os passos de seu ídolo Donald Trump. Uma bobagem tão estrepitosa que logo voltou atrás.

Mas insinuou, ao recuar, que queria evitar o avanço de um corredor ecológico na Amazônia. É uma referência ao projeto batizado de Triplo A, por se estender dos Andes ao Atlântico, passando pela Amazônia.

Na visão de Bolsonaro, compartilhada de resto por importantes setores militares desde sempre, seria uma maneira de internacionalizar a Amazônia, algo obviamente inaceitável e não apenas pelos militares.

O Triplo A é de fato um megaprojeto que, como tal, merece ser examinado com lupa. Cobre uma imensa área (200 milhões de hectares), na qual vivem 30 milhões de pessoas e 385 povos indígenas, de oito países sul-americanos.

Bolsonaro ouviu, portanto, o galo cantar. Mas não foi no acordo de Paris que o galo cantou. Não há neste uma única vírgula que trate de interferir na soberania brasileira sobre a Amazônia, não há uma letra que fale do Triplo A.

O principal ideólogo do Triplo A é o antropólogo Martin Von Hildebrand, presidente da Fundação Gaia Amazonas, com sede na Colômbia. A ideia ganhou tração em 2015, quando Hildebrand sobrevoou a Amazônia colombiana junto com o então presidente Juan Manuel Santos. O interesse de Santos fez com o tema deslanchasse, mas só na Colômbia.

Quando o governo brasileiro, então sob a chefia de Dilma Rousseff, soube da movimentação na Colômbia logo rechaçou o projeto. Portanto, o Triplo A nem faz parte do acordo de Paris nem está sendo examinado pelo governo brasileiro.

Há um segundo preconceito no planeta Bolsonaro completamente equivocado e que foi verbalizado de maneira grosseira por Luiz Antônio Nabhan Garcia, da União Democrática Ruralista: o acordo de Paris seria, disse esse luminar, puro papel higiênico que "só serve para limpar a bunda".

A ideia subjacente a esse raciocínio é a de que proteger o meio ambiente, como tenta fazer o acordo de Paris, prejudica os negócios, especialmente o agronegócio. Besteira pura, rejeitada até por um megaempresário agrícola como Blairo Maggi, ministro da Agricultura.

Para especialistas estrangeiros em meio ambiente, não sair do acordo de Paris é bom, mas é insuficiente para tranquilizar os governos signatários do pacto, em especial os europeus. Reclamam clareza sobre os compromissos do Brasil, até porque vai sediar, em 2019, uma nova COP (Conferência das Partes), e seria um tremendo vexame se ela fracassasse por culpa do anfitrião.

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