Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Os ídolos de Bolsonaro avançam na Espanha

Grupo extremista passa de 0 para 11% na Andaluzia

Apoiadores do partido de ultradireita Vox comemoram resultado de eleição na Andaluzia, na Espanha
Apoiadores do partido de ultradireita Vox comemoram resultado de eleição na Andaluzia, na Espanha - Marcelo Del Pozo/Reuters

A Espanha era, dos grandes países europeus, o único que parecia imune aos avanços da extrema direita.

Era até domingo (2): na eleição regional da Andaluzia, o novo partido fascistóide (Vox) deu um baita salto de 0,46% dos votos em 2015 para 10,97% agora, elegeu 12 parlamentares e tornou-se a chave para a formação de um governo de direita.

É sempre bom introduzir matizes, a saber:

1 - Não é uma eleição nacional. Não dá portanto para dizer que a Espanha girou à direita.

2 - O Vox foi o quinto grupo mais votado, atrás dos tradicionais Partido Socialista Operário Espanhol, Partido Popular (direita civilizada), Ciudadanos (centrista) e uma coligação chamada Adelante Andalucía, que é um rebento temporão dos movimentos de protesto da sociedade civil.

Mas esses matizes não bastam para aguar a festa da direita extremista. Não é trivial passar, de uma eleição para outra, de 0% para 11%, de zero deputados para 12.

De alguma forma —e com a ressalva de praxe de que não há como comparar com precisão situações de países diferentes— repetiu-se na Espanha o que houve no Brasil em outubro: o desencanto com a política gerou, primeiro, uma brutal abstenção (41,35%, a mais alta em 38 anos) e o desabamento dos partidos tradicionais.

Em primeiro lugar do PSOE, que governa a Andaluzia desde 1978, há 40 anos portanto.

É verdade que o partido ainda ficou em primeiro lugar, mas viu sua votação reduzir-se de 35,41% em 2015 para 27,95% agora.

Não serve de consolo para os socialistas o fato de que seu rival mais tradicional, o Partido Popular, também sofreu uma sangria de votos, recuando de 26,74% para 20,75%.

É importante lembrar que até recentemente, a Espanha pertencia, eleitoralmente, a esses dois partidos, nacional e regionalmente. Tanto assim que, em 2015, somados, os dois tiveram praticamente dois terços dos votos na região. Agora, nem que resolvessem governar a Andaluzia juntos chegariam aos 50% mais um que configuram a maioria absoluta.

O rompimento do bipartidarismo se deu, na Espanha, pelo surgimento de movimentos de baixo para cima, caso do Podemos (2014), pela esquerda, e do Ciudadanos, surgido em 2006 na Catalunha e que foi se nacionalizando.

A novidade da eleição andaluza é a ascensão de um quinto conglomerado, o Vox.

Com um detalhe inquietante: é um dos raros partidos europeus que já manifestou a intenção de integrar o chamado Movimento, a internacional de extrema direita em construção por iniciativa de Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump.

Bannon é ídolo do novo chanceler brasileiro, Ernesto Araujo, e dos filhos de Bolsonaro.

Como as cadeiras dos partidos convencionais da direita (PP e Ciudadanos) não bastam para fazer a maioria, o Vox e seus 12 deputados têm a chave para a direita governar (seus dois eventuais companheiros de governo somam 47 cadeiras em um Parlamento de 109 vagas; só com as 12 do Vox chegariam à maioria absoluta).

Posto de outra forma, a extrema direita pode ganhar carimbo de legitimidade em um país em que essa corrente praticamente inexistia.

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