Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Outro 'Bolsonaro' no pedaço

El Salvador dá liderança a um 'diferente'

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O candidato presidencial que lidera as pesquisas fugiu de todos os debates com seus adversários. Esse mesmo candidato usa as redes sociais como modo preferencial de comunicação com o público.

Ele tem passado na vida pública, mas se apresenta como “outsider". Vale-se, para afiançar sua liderança, do enorme cansaço do público com a corrupção dos partidos que se revezaram no poder desde a redemocratização.

Outdoor em Cojutepeque exibe propaganda do candidato Nayib Bukele à Presidência de El Salvador
Outdoor em Cojutepeque exibe propaganda do candidato Nayib Bukele à Presidência de El Salvador - Jose Cabezas - 22.jan.19/Reuters

O cansaço se deve não apenas à corrupção mas também a um índice insuportável de criminalidade.

Estou falando de Jair Bolsonaro e do Brasil, certo? Poderia ser, mas, na verdade, são fatos que caracterizam o caminho à Presidência de El Salvador de Nayib Bukele, que pode até se eleger no primeiro turno, a ser disputado neste domingo (3).

Claro que há também diferenças importantes, a começar pelo fato de que Bukele pode ser acusado de muita coisa, menos de ser nacionalista como Bolsonaro. Até porque não há como ser nacionalista em um país tão pequeno como El Salvador, também conhecido como “El Pulgarcito” da América (o pequeno polegar).

Mas o fato relevante nessas coincidências é que mesmo um país tão periférico está prestes a entrar na onda de repúdio aos partidos políticos tradicionais que está ocorrendo mundo afora.

Bukele foi prefeito de Nuevo Cuscatlán e da capital, San Salvador, e militou na FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, antiga guerrilha convertida em partido político).

Foi expulso por mau comportamento, inclusive uma agressão verbal a uma colega de partido (outra coincidência com Bolsonaro que teve idêntica atitude com uma colega, no caso de Parlamento, a deputada do PT Maria do Rosário).

A expulsão fez bem eleitoralmente a Bukele: pôde apresentar-se como candidato de uma criação recente, a coalizão Gana (Grande Aliança pela Unidade Nacional), com o que escapa do imenso desencanto com os partidos tradicionais.

“As pesquisas mostram que o desencanto leva a querer algo diferente", escreve, por exemplo, a revista da Uca (Universidade Centro-Americana, com sede em San Salvador).

Na jovem democracia salvadorenha (a eleição de domingo é apenas a sexta consecutiva), ou ganhava a Arena (Aliança Republicana Nacionalista, de direita reacionária) ou a FMLN, que elegeu os dois presidentes mais recentes.

Ambas estão carimbadas como corruptas, o que é fácil de entender. Maurício Funes, presidente pela FMLN (2009-2014), está foragido, refugiado na Nicarágua. Foi acusado pelos procuradores salvadorenhos de ter se apropriado de US$ 351 milhões (R$ 1,3 bilhão) dos cofres públicos, “um número chocante quando se considera que ocorreu em um país em que 31% da população vive com menos de US$ 5,50 por dia (R$ 20,40)", como escreve Lucas Perelló (New School for Social Research).

Do lado da Arena, outro ex-presidente, Antonio Saca (2004-2009), acusado de desviar um pouco menos (US$ 300 milhões ou R$ 1,1 bilhão) confessou o crime e foi condenado a dez anos de prisão.

Some-se à corrupção o fato de que El Salvador tornou-se, nos governos dos partidos principais, um dos países mais violentos do mundo (o mais violento em 2016) —e entende-se facilmente o repúdio a eles.

O problema, na visão do cientista político Jorge Castillo, em artigo para El Mundo, é que os eleitores, segundo as pesquisas, estão optando “pelo populismo, demagogia, mentira, incapacidade, nepotismo, autoritarismo e ambição desmedida, evidenciada por Bukele e associados".

Aposto que você já leu algo parecido sobre o Brasil e Bolsonaro, não?

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