Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Venezuela

Até a esquerda detona Maduro, menos os latinos que recebem mordomias

Personalidades que trabalharam com Hugo Chávez conversam com Juan Guaidó

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O ditador Nicolás Maduro, durante evento no metrô de Caracas - 5.fev.2019/Presidência da Venezuela

Aviso ao pessoal do PT e do PSOL e de outros setores que se acham de esquerda e continuam apoiando a ditadura venezuelana: até personalidades que trabalharam com Hugo Chávez –esse grande ídolo de vocês todos– estão conversando com Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente encarregado da República.

À saída de um encontro na terça-feira (5), Héctor Navarro, ministro da Educação com Chávez, foi curto e grosso: “O governo de Maduro é o pior governo que a Venezuela teve em sua história”.

Navarro foi um dos membros da Plataforma em Defesa da Constituição que aceitou conversar com Guaidó. Trata-se de um grupo usualmente chamado de “chavistas dissidentes”, pessoal que trabalhou com Hugo Chávez mas não engole Nicolás Maduro.

Essa fatia da esquerda defende rigorosamente o mesmo que o Grupo de Lima e os países europeus que esta semana respaldaram Guaidó: “É preciso sair de Maduro, mas por uma via que está prevista na Constituição, democrática e pacífica”, disse Navarro.

Fora da Venezuela, há outros esquerdistas que, ao contrário do PT/PSOL e cia., perderam completamente a paciência com Maduro. Caso, por exemplo, de líderes da Frente Ampla chilena, coalizão de movimentos de esquerda criado faz pouco para tentar arejar a política local e introduzir uma cunha na polarização direita/esquerda tradicionais.

O deputado Pablo Vidal, de Revolução Democrática, um dos grupos da Frente Ampla, disse ao jornal La Tercera que “Maduro se converteu em ditador e a esquerda chilena não pode continuar sendo cúmplice dele”.

Apoiou-o seu colega Giorgio Jackson, um dos rostos do movimento estudantil de protesto, hoje deputado: “Lamentavelmente, as ações de Maduro progressivamente tornaram indistinguível o que ocorre na Venezuela do que ocorre em uma ditadura”, declarou.

Voltemos à Venezuela e ouçamos agora Manuel Sutherland, economista que foi conselheiro informal de Chávez nos seus primórdios e continua tão de esquerda que pertence à Associação Latino-Americana de Economia Marxista.

Sutherland tem uma explicação para o silêncio de boa parte da esquerda latino-americana em relação à ditadura venezuelana. 

Em entrevista recente para Nueva Sociedad, revista da social-democracia alemã, Sutherland afirmou: “A esquerda latino-americana em geral ‘viveu’ do chavismo, quer dizer, uma infinidade de notáveis da esquerda desfilaram pelo país, recebendo suculentas diárias, dando entrevistas e prestando assessorias”.

Mais: “Centenas de líderes de pequenos partidos e organizações receberam generosa ajuda do governo bolivariano”.

Em português claro: é a famosa boquinha.

Sutherland sabe do que fala, pelo contato próximo que teve com Chávez e o chavismo, pelo menos o original.

Para ele, há um segundo motivo para a esquerda calar-se: quer se distanciar dos governos de direita (de Mauricio Macri, de Sebastián Piñera ou Jair Bolsonaro). Na busca desse distanciamento, perde a referência da realidade concreta, diz Sutherland, e “tratam de justificar honestamente políticas claramente errôneas e com consequências catastróficas para a classe operária e o povo venezuelano”.

Da turma da boquinha, nada a esperar. Mas os outros poderiam abrir os olhos, já não estarão sozinhos.

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