Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Venezuela

O pós-Maduro é o mais difícil

Comunidade internacional não pode se omitir

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A revista britânica The Economist puxou para a capa do número desta semana a crise venezuelana e abriu o texto com uma frase interessante, a saber: “Na medida em que os líderes mundiais se manifestam a favor ou contra Mr. Maduro, estão travando uma batalha em torno de uma ideia importante que ultimamente vinha caindo de moda: a ideia de que, quando um líder saqueia seu Estado, oprime seu povo e subverte o primado da lei, é um problema para todo o mundo”.

De acordo, mas e daí? Há vários exemplos recentes e não tão recentes em que a comunidade internacional (sinônimo de “todo o mundo”) assistiu, sem se envolver, à destruição de um país.

Há até um caso bem recente e bem dramático, o da Síria, em que muitos países se meteram, sim, mas para jogar gasolina no fogo, em vez de tratar de apagá-lo.

Cada leitor, imagino eu, terá o seu próprio exemplo de impotência/inapetência/incompetência da comunidade internacional.

O problema é que a expressão comunidade internacional tornou-se oca (ou sempre foi, talvez). Por um motivo simples: comunidade pressupõe comunhão de interesses e de valores.

No caso da Síria, o que há, desde o início dos conflitos, é divergência absoluta de interesses entre, por exemplo, Estados Unidos e Rússia, Arábia Saudita e Irã, Turquia e as comunidades curdas.

Nem vou falar de valores porque tudo o que NÃO há nessa guerra são valores. Só há mesmo interesses.

No caso da Venezuela, em tese seria mais fácil conciliar os interesses dos grandes atores. A China, por exemplo, só pensa em recuperar o dinheiro investido na Venezuela, algo como US$ 62 bilhões (R$ 226,6 bilhões).

É muito, mas seria lógico que a oposição ao governo Maduro assumisse o compromisso de honrar os pagamentos. Qualquer que seja o novo governo venezuelano, haverá interesse em manter boas relações com a China.

Mais difícil seria adotar idêntico comportamento em relação a Cuba.

Os cubanos não querem apenas manter as benesses que o chavismo lhes deu. Temem que, se cair Caracas, Havana será o próximo dominó. E os Estados Unidos de Trump não são confiáveis para dar garantias de que se contentarão apenas com a cabeça de Maduro.

Há também a Rússia, mas seu interesse na Venezuela parece mais o de aporrinhar os Estados Unidos no que Washington sempre considerou seu quintal, a América Latina.

Por falar em quintal, Patrick Iber, historiador das relações EUA/América Latina, escreve que, pense o que se pense sobre Maduro, “é claro que Washington não é um parceiro confiável quando se trata de forçar mudanças de regime”.

De fato, intervenções americanas —diretas ou encobertas— em muitos casos tiraram governantes democraticamente eleitos e puseram ditadores ferozes no lugar (Augusto Pinochet no Chile, por exemplo —e está longe de ser o único).

Mesmo que, desta vez, o esforço diplomático de isolar o regime acabe funcionando, ainda seria preciso que a tal comunidade internacional preparasse desde já uma espécie de Plano Marshall para um futuro governo democrático.

Afastar Maduro é apenas o primeiro passo para começar a reconstruir a Venezuela. Necessário e indispensável, mas apenas o início de um processo de recuperação do qual a comunidade internacional não tem o direito de se omitir.

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