Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Sai a força, entra o estrangulamento

Mas convencer militares ainda é o jogo certo

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O Grupo de Lima não deu a menor atenção à sugestão de Juan Guaidó de tirar Nicolás Maduro do poder por meio de uma intervenção militar. Guaidó explicitou para Sylvia Colombo, desta Folha, o que queria dizer quando repetiu Donald Trump, que vive dizendo que “todas as opções estão sobre a mesa". Intervenção militar seria uma delas.

Parêntesis: dias atrás, uma sessão informativa de um alto funcionário americano, cujo nome não pode ser citado conforme as regras do jogo, deixara claro que, quando os Estados Unidos dizem que “todas as opções estão sobre a mesa”, quer dizer apenas todas as opções políticas, diplomáticas, financeiras e comerciais —não a militar.

Até antes da reunião do Grupo de Lima nesta segunda-feira (25), o repúdio expresso a uma ação militar, partido dos presidentes do Peru e do Chile e do vice-presidente do Brasil, enterra de vez essa hipótese, que, de resto, nunca esteve seriamente no cardápio, exceto talvez na cabeça de Trump.

A opção que ficou de pé —reafirmada pelo vice-presidente Mike Pence— é a de sufocar o regime por meio do aumento das sanções. Ao mirar a PDVSA, a estatal do petróleo e praticamente a única grande fonte de recursos em moeda forte para a Venezuela, o objetivo é secar esse maná e, assim, impedir o governo de fazer o já precário abastecimento de alimentos.

Em consequência, em tese haveria um incentivo para que os militares e outros grupos abandonassem Maduro.

Funciona? Talvez, mas há dois fatos para duvidar da eficácia: primeiro, Cuba está há 60 anos sob bloqueio americano, e a ditadura continua de pé. Segundo, Maduro procura sempre driblar as sanções, buscando fontes alternativas de moeda forte. Embarca, por exemplo, ouro para a Turquia e vende petróleo a terceiros países usando intermediários russos.

Ainda assim, o governo tem cada vez mais dificuldades para conter os protestos. Por um motivo simples, como relata David Parra, no Caracas Chronicles, valiosa publicação digital:

“Estive em muitas manifestações nestes anos de violência na Venezuela. Mas o que vi no dia 23 de fevereiro na fronteira com a Colômbia [as manifestações para tentar forçar a entrada de ajuda humanitária] foi diferente: toda uma sociedade lutando com o desespero daqueles que não têm nada mais a perder".

Parece evidente que nenhuma sociedade se dispõe a morrer sem lutar.

Essa situação dramática torna sensata a afirmação do general Hamilton Mourão à GloboNews no sentido de que é preciso conversar com os generais venezuelanos para convencê-los a aceitar a transição para a democracia.

Posição sensata, mas inviável? Não necessariamente, a julgar pelo relato de Ivan Briscoe, diretor do Programa para a América Latina e o Caribe do International Crisis Group, dedicado precisamente a analisar e, de preferência, prevenir conflitos.

Briscoe conversou com um membro da Assembleia Constituinte, o Parlamento ilegítimo que a ditadura montou para desautorizar a Assembleia Nacional de maioria oposicionista. Esse “leal, mas crítico chavista", como Briscoe o definiu, sugeriu que uma saída seria os generais tomarem o poder por um ano ou dois, período em que negociariam um acordo com a oposição e a comunidade internacional e, então, realizar eleições para devolver o poder aos civis.

Pode ser uma posição isolada mas é reveladora de que até no coração do regime há gente pensando em um pós-Maduro.


 

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