Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Ausências que preencheriam lacunas

Renúncia dos olavetes melhoraria o governo

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São Paulo

Seria uma tremenda bênção para o governo Jair Bolsonaro se os pupilos de Olavo de Carvalho realmente pedissem afastamento, como ordenado pelo guru.

Seriam ausências que preencheriam lacunas, se você me entende.

A mais sintética e mais perfeita definição para o papel de Olavo de Carvalho foi feita há algum tempo por esse excelente jornalista que é Bernardo Mello Franco, que fez carreira brilhante na Folha e hoje está em O Globo.

Disse que o polemista passara de piada a doutrina oficial de governo. Só no Brasil mesmo para uma piada virar conselheiro-chefe de um governo.

O escritor Olavo de Carvalho em sua casa, em Richmond, no estado da Virgínia
O escritor Olavo de Carvalho em sua casa, em Richmond, no estado da Virgínia - Vivi Zanatta - 6.out.17/Folhapress

Ninguém sério leva Olavo de Carvalho a sério. Que os Bolsonaros rezem pela alucinada cartilha dele, azar do Brasil, que está se transformando em faz-me-rir planetário.

Não é opinião só da Foice de São Paulo, como os hidrófobos do bolsonarismo costumam chamar este jornal. Basta ler o que um impecável conservador, Luiz Felipe Pondé, escreveu em sua coluna desta segunda-feira (11): "Esse grupo boçal ao redor da administração Bolsonaro pensa que foi ele quem o elegeu, mas essa percepção é típica de quem vive alienado da realidade. Quem elegeu Bolsonaro, na sua maioria, detesta seu clã, seus idiotas paranoicos e seus churrascos na varanda".

Pena que os “olavetes" no governo não pareçam ter a menor propensão para largar a boquinha, apesar das ordens do guru. O chanceler Ernesto Araújo, um deles, tem até histórico —e longo— de servir a governos dos quais discorda.

Está no Itamaraty há quase 30 anos. Passou pois, incólume, pelos governos de Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.

Nunca deu um pio sobre a política externa desses governos, a não ser quando percebeu a chance de subir na vida ao vislumbrar a possibilidade de vitória de Jair Bolsonaro, outro “olavete".

Aí, sim, atreveu-se a ser crítico das políticas que ajudara a levar adiante, discretamente, é verdade, porque nunca foi relevante no Itamaraty.

Um dos problemas com os “olavetes” é que, além de serem tidos como uma piada, são uma piada datada, fora de época. Olavo de Carvalho dedicou-se a combater o comunismo. Deve achar, como todo fanático que “vive alienado da realidade", para citar Pondé de novo, que foi ele quem derrubou o Muro de Berlim.

O comunismo ficou soterrado nos escombros do Muro, mas os fanáticos querem continuar no combate. São caça-fantasmas, pois.

Dá até uma boa comédia para Hollywood, mas não dá um bom governo, porque os problemas brasileiros não são o comunismo, mas um punhado de outros, todos já fartamente diagnosticados e expostos.

Desconfio até que, se todos os seguidores do guru-piada renunciassem e não fossem substituídos, o governo ficaria melhor.

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